domingo, 29 de maio de 2005

A evolução está comprovada?



Podemos então afirmar com toda certeza que a EVOLUÇÃO está completamente provada?

Depende:

Se considerarmos o seu grau de aceitação e eficiência sim! Num sentido frouxo da palavra "prova", não há nenhum motivo sensato para se duvidar do fato de que tenha ocorrido o processo evolutivo. A razão primordial, como eu já disse, é a total falta de opção de uma explicação comparável. As dúvidas são quanto aos processos que o conduziram através dos tempos.

Já se considerarmos como Comprovação uma evidência indiscutível capaz de por fim a qualquer discussão, ou uma prova definitiva como quer o CREATION SCIENCE EVANGELISM, que oferece U$ 250.000 para quem der uma prova da evolução, então a resposta claramente é não.

Não há como colocar na mesa uma evidência física, única e definitiva do processo evolutivo, assim como de nenhum fato histórico, de nenhum evento em local remoto ou mesmo do fato de existirem 6 bilhões de pessoas na Terra. Além do que, ao contrário do senso comum, não existem "provas" em Ciência. Estas são privilégio da Matemática e da Lógica.

O site referido acima sabe muito bem disso; eu também posso exigir que alguém me traga uma prova de que a Terra é esferóide e que orbita em torno do Sol, uma prova física inquestionável. Se eu não aceitar documentos, cálculos, teorias, dados ou qualquer informação, e exigir apenas um prova concreta, tal se torna impossível.

No entanto a ciência pode apresentar amostras de DNA, fósseis transicionais, reconstituições paleontológicas, testes de antiguidade, experiências controladas de geração de aminoácidos etc. como evidências da evolução.

Mas nem isso poderia ser apresentado se alguém exigisse uma prova da criação. Como eu já disse antes, nem mesmo a Arca de Noé, os esqueletos dos Nefilins, evidências do Dilúvio, muito menos a crença de que todas as espécies de seres vivos foram criadas em 6 dias.

Mesmo assim, é preciso admitir que a evolução também não é algo que se possa demonstrar com facilidade e, sendo assim, porque então crer nela?

POR QUE ACREDITAR NA EVOLUÇÃO?

Pelo simples fato de que, até agora, é a única escolha sensata. Para demonstrar isso, usemos uma analogia,

Vamos supor que você esteja repousando num banco de praça, de onde tem ampla e descoberta visão de tudo a sua frente. Você pode ver então uma padaria fechada, mas com uma bela vitrine, e lá dentro um suculento pão. Do lado de fora, há um mendigo evidentemente faminto a fitar o pão e, no chão ao lado dele, uma pedra de tamanho e peso correspondentes a pelo menos uns 3 kg.

Você se distrai por um instante e ouve o som de um vidro se quebrando; quando volta a atenção à cena, observa um buraco na vitrine, vê a pedra lá dentro, percebe que o pão desapareceu e vê o mendigo batendo em retirada.

Você não viu o fato em si, mas sabe que nenhuma outra pessoa poderia passar no local no breve instante em que você se distraiu e, sendo assim, qual a sua conclusão? Vejamos 3 alternativas:

1 - O mendigo pegou a pedra no chão e a usou para quebrar a vitrine, roubou o pão e saiu correndo.

2 - A pedra levitou, sozinha, se atirou no vidro e desintegrou o pão sem deixar vestígios. O mendigo, assustado, fugiu correndo.

3 - A pedra se teletransportou para o interior da vitrina, que se quebrou sozinha. O pão desapareceu tendo sido roubado por duendes comedores de pão num piscar de olhos. O mendigo continua ali, só que se tornou invisível, e o homem correndo que parece o mendigo na verdade é um pequeno sapo que assumiu forma humana.

Qual dessas "possibilidades" parece ser a mais sensata?

É assim que ocorre com a evolução. É a única opção razoável. Ela só nunca fora proposta antes do século XIX pela falta de conhecimento sobre como funciona a natureza. É como se, durante a maior parte da história humana, ninguém soubesse que uma pedra não pode se mover sozinha, que uma pessoa faminta faz qualquer coisa por comida, que o pão é comestível, que nada pode desaparecer no ar subitamente sem deixar rastros ou que sapos não podem se transformar em pessoas etc.

Sem esses conhecimentos, seria razoável considerar as outras duas opções para explicar o que aconteceu na vitrine da loja.

Ninguém pôde "ver" o processo de evolução, mas todas as evidências apontam indiscutivelmente para ela.

Há a distribuição geográfica das espécies ao redor do mundo e o modo como elas se diferenciam de acordo com o local. Há a comparação do desenvolvimento fetal, as moléculas de DNA, as mutações, os fósseis etc.

Por outro lado, como pergunto no texto QUESTÕES QUE O CRIACIONISMO NÃO RESPONDE, que evidências temos de que um evento tão espetacular e sobrenatural como a criação do Universo em 6 dias tenha ocorrido? De que Josué tenha parado o Sol sobre Jericó? De que todas as pessoas do mundo passaram a falar línguas diferentes em um só dia? De que tenha havido o Êxodo? De que que qualquer coisa na Bíblia não passe de mitos e lendas e alguns fatos históricos triviais? Ou mesmo de que Jesus Cristo tenha existido e, ainda por cima, ressuscitado?

Se abraçamos uma religião e as questões de fé, podemos não ter motivos para duvidar de fenômenos que não possam ser provados, mas, se entramos no campo da ciência, que possui uma vasta gama de realizações e descobertas concretas, porque confrontá-la com nada mais do que uma coletânea de lendas?

Se quisermos ser felizes, podemos colocar nossa emoção em primeiro lugar, mas por que continuar a usá-la, e não a razão e a experimentação, quando a questão se trata de compreender um fenômeno da natureza que pode ser estudado fisicamente?

Não quero aqui bradar contra a crença em si, mas com a insistência em usá-la em áreas onde ela não costuma dar bons resultados. Todos sabemos dos benefícios psicológicos e práticos de uma satisfação pessoal, de um objetivo claro na vida, de uma palavra de conforto ou de um grupo de amigos, coisas que a religião pode nos dar melhor do que a ciência.

Mas, se consertamos carros, construímos casas, fazemos cirurgias, desenvolvemos vacinas, olhamos as estrelas com telescópios, examinamos células com microscópios, desvendamos o genoma humano, escavamos fósseis ou observamos o comportamento dos animais, convenhamos que crenças, orações e livros sagrados não costumam ajudar.

O cristianismo é a maior religião do mundo, a mais bem sucedida. A Bíblia é o livro mais disseminado de todos os tempos. A maioria dos católicos não deixou de ser católico quando a Igreja declarou ser o Gênesis uma alegoria, nem mesmo ninguém deixa de professar uma religião devido à imprecisão científica de suas crenças.

Por que insistir numa batalha perdida e sem qualquer utilidade?

Insistir em usar a Bíblia como manual de ciência, como faz Henry Morris e cia. não é glorificá-la, e sim tentar extrair dela um conteúdo que ela jamais pretendeu ter. E insistir em expô-la ao ridículo.

O Cristianismo só tem a perder com o CRIACIONISMO "CIENTÍFICO" BÍBLICO. Além de prejudicial à ciência, em especial ao ensino escolar, ele presta um enorme desserviço à religião. Ele desnecessariamente expõe a religião num campo no qual ela não tem qualquer desenvoltura. É como pegar um pianista famoso e insistir em fazê-lo jogar futebol declarando ser ele o melhor jogador do mundo. É apenas ridicularizá-lo.

Não precisamos de evidências para abraçar uma crença, basta acreditar, mas crença ou fé alguma irá fazer aviões voarem, pessoas se comunicarem a milhares de quilômetros, extrair cálculos renais, explicar como funciona o universo ou como a vida surgiu.

Já passou definitivamente da hora de se deixar a ciência em paz e a Religião em seu devido lugar. Chega de obscurantismo e falsidade. Milhares de pessoas do mundo rezando com bíblias na mão não irão impedir que uma pessoa morra de apendicite. Serão necessários médicos para operá-la e remover esse órgão vestigial, que só tem função em espécies ancestrais.

A religião pode operar milagres na psique humana, mas nada fará no mundo físico. Ela não irá parar a rotação do planeta, fazer o mar se abrir ou remover montanhas.

Se nossa tecnologia consegue detectar o eco do Big-Bang, os mapas genéticos da humanidade e os pontos fracos do vírus HIV, não faz mais sentido insistir em usar crenças e lendas como paradigma atual.

Além do EVOLUCIONISMO e do CRIACIONISMO, há uma outra explicação para a existência da vida na Terra, em especial para a existência humana, que costuma ser chamada de ANTROPOLOGIA GNÓSTICA ou TEOSÓFICA, ao qual gosto de me referir como INVOLUCIONISMO

Tal visão é, insisto, mais racional do que o Criacionismo, incorrendo em menos contradições lógicas, mas é tão ou mais fantástica e totalmente desprovida de evidências. Se consideramos o Criacionismo aceitável mesmo sem nada concreto, por que não considerar essa também?

Por que, também, já que devemos dar voz a todos com pretensas credenciais científicas, não abrir espaço nas escolas para os Raelianos, que têm até envolvimento na famosa empresa francesa CLONAID, uma vez que eles têm também uma teoria "científica" de que a vida na Terra foi criada por ETs? Porque não deixá-los apresentar as mil e uma "evidências" da Ufologia que muitos declaram ser Ciência?

Será que os Criacionistas, em nome de seu pretenso tratamento igualitário para Evolução e Criação nas escolas, também concordariam em que nas mesmas fossem ensinados outros Criacionismos de outras religiões?

E por que eles precisam ocupar tempo nas escolas se já podem ocupar o tempo que quiserem em suas igrejas e programas de TV e podem controlar totalmente tudo que suas crianças leem, veem e aprendem fora da escola?

Pode ter sido válido e útil, num determinado contexto social, que uma criança acredite que foi trazida por uma cegonha. Bem mais simples do que explicar algo sobre a fecundação e a gestação, e mais aceitável no âmbito de uma sociedade sexualmente moralista. Mas um dia a criança terá que crescer, e conhecer a verdade. Ou terá relações sexuais sem nem saber que podem resultar numa gravidez.

Um dia a humanidade foi criança e não tinha conhecimento sobre o funcionamento da natureza, assim como tinha medo de bruxas e demônios de toda espécie. Nessa época, explicações fantásticas podiam ser válidas. Mas a humanidade cresceu, ela EVOLUIU!

É mais do que hora de encarar a verdade de frente.

Marcus Valerio XR
03 de Novembro de 2001

http://www.evo.bio.br/LAYOUT/Comprova.html

sábado, 7 de maio de 2005

Ateísmo positivo

Uma religião afirma coisas. O ateísmo, em geral, nega coisas. Poderíamos dizer que
religiões são positivas e o ateísmo é negativo. Ele não se define por valores próprios
mas pela negação dos valores das religiões. Para que o ateísmo se torne positivo (ou
afirmativo) é preciso mostrar que há vantagens em não se ter um deus e uma crença
religiosa. De modo geral, a escolha certa é aquela que nos faz feliz ou, pelo menos,
nos ajuda a enfrentar a vida. Uma religião pode não ter nenhuma base lógica mas
adotá-la se justifica se seus efeitos em nossa vida são positivos. Religiões nos
trazem esperança, nos convencem de que há justiça no universo. Seremos um
dia recompensados pelo bem que fizermos e o mal será punido. A morte não é
mais o fim, apenas a passagem para uma vida melhor.

Por outro lado, religiões nos trazem o medo da punição, a culpa por termos feito ou
deixado de fazer alguma coisa que, na verdade, não prejudica nem beneficia ninguém.
Elas nos levam a nos humilharmos e nos autodesvalorizarmos diante de Deus. Exigem
que paguemos por supostos pecados com penitências que em nada enriquecem
a comunidade ou o próprio indivíduo. Geram intolerância e rejeição dos que têm outra fé,
condenam as atitudes nos outros só porque contrariam o que está no "livro sagrado" etc.
Até que ponto é preciso se ater ao que está escrito sem se tornar um fundamentalista?
A doutrina é confusa e há muitos modos de interpretá-la. É louvável e meritório ser virtuoso
apenas por medo do inferno? Qual religião é a verdadeira, entre tantas? A fé nos leva a agir
sem pensar, a seguir dogmas sem discutir sua validade. Precisamos da razão e da
dúvida constante para limitar nossos erros, para questionarmos constantemente
nossas decisões.

Ateus não seguem dogmas. Procuram pensar com a própria cabeça e fazer o que lhes
parece certo, porque é certo e não porque "está escrito", nem porque esperam uma
recompensa em outra vida ou têm medo do inferno. Embora tenham defeitos como
todo ser humano, estão livres para ser mais tolerantes em relação ao que os outros
pensam, porque acham que opinião própria é o direito de cada um. Eles não têm uma
religião que lhes diga, a priori e sem justificativas, o que aceitar ou não. Não têm
nenhum motivo, além de possíveis razões pessoais, para discriminar mulheres ou
homossexuais. Podem se dedicar mais a melhorar este mundo, o único que eles
conhecem, em lugar de apenas esperar pela hora de ir para o céu, sem o conformismo
de aceitar que "as coisas são assim mesmo" ou "é a vontade de Deus". Não desperdiçam
a vida em orações improdutivas fechados em um convento. Um ateu não se vê como um
joguete na luta entre Deus e o Diabo pela sua alma; ele é o único responsável pelos seus
atos. Ele tem toda a culpa pelos seus erros e todo o mérito pelos seus acertos.

Religiões oferecem respostas a todas as dúvidas e regras de conduta para qualquer
ocasião. Ateus têm que pensar com a própria cabeça e tirar suas próprias conclusões,
o que os ajuda a refletir melhor e mais profundamente antes de decidir. Respostas
simplistas levam a mentes simplistas mas, é claro, muitos preferem a segurança de um
dogma à incerteza de uma busca por respostas. É por isto que não se deve tentar
"desconverter" as pessoas. Quando e se elas estiverem prontas, irão procurar
respostas fora de sua religião.

Pessoas religiosas que preferem ignorar os mandamentos de seus "livros sagrados"
que lhes parecem excessivos ou cruéis estão agindo como ateus, pensando com sua
própria cabeça e seguindo sua razão, embora muitas vezes nem se dêem conta disto.

Ateus devem se policiar, entretanto, para não repetir os erros das religiões. Devem
respeitar as escolhas dos crentes, por mais obtusas que lhes pareçam. Quando
instados a defender sua posição, destacar os aspectos positivos do ateísmo, como
a liberdade de escolha e a racionalidade, evitando atacar os aspectos negativos desta
ou daquela religião ou duvidar da inteligência do interlocutor.

Sim, é possível ser um ateu militante. Pode até ser necessário, como forma de defender
sua liberdade de expressão num mundo ameaçado pelo fundamentalismo.
Mas é preciso levar em conta que uma postura agressiva só reforçará os estereótipos
do "ateu revoltado e perverso", do "ateu sem moral e sem limites". Contra a fé, a razão
nem sempre faz efeito. Comecemos confundindo os crentes, sendo o oposto daquilo
que eles esperam de nós. Sejamos honestos, prestativos e respeitadores das leis.

Aos poucos, e com cuidado para evitar a rejeição, procuremos despertar nos religiosos
a consciência de que a "verdade" deles não é a única. Que é possível ser feliz e decente
sem um deus. Que a crença em deuses não fez da humanidade um lugar melhor, talvez
muito pelo contrário.

Não é possível desconverter uma pessoa de fora para dentro, mas podemos torná-la
mais tolerante. Fazê-la entender que há outros modos de pensar igualmente aceitáveis.
Que a crença delas não é uma escolha óbvia e que ninguém se torna um pervertido,
condenado ao inferno, por não adotá-la. Fazê-la entender que não é possível "rejeitar"
um deus em que não se acredita.

(inspirado em Paul O'Brien - "Gentle Godlessness")