segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O ser humano, ápice da criação divina?

    Os crentes dizem que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, de uma só vez, nos primeiros 7 dias. Dizem também que o corpo humano é a maravilha da Criação e é prova de que Deus existe.

    A verdade é que o homem é o resultado de alguns bilhões de anos de evolução, a partir de bactérias unicelulares. Nosso DNA mostra isto. Ele é cumulativo e contém as características de todos os nossos antepassados, desde as primeiras bactérias. Por exemplo, temos os genes que dão olfato apurado ao rato, só que não funcionam em nós.

    Um projeto decente eliminaria tudo o que não fosse necessário. Mas a evolução é uma lenta acumulação de mutações aleatórias que foram selecionadas, não porque eram a melhor solução possível mas, porque naquele dado momento, representaram uma vantagem competitiva para os indivíduos com aquela mutação. Isto também significa que não houve preocupação com consequências a longo prazo. A evolução não planeja, apenas reage.

    Esta é uma lista de defeitos de "projeto" do corpo humano, uma boa porcaria que, se fosse realmente um projeto, teria sido rejeitado:

    1. As consequências de termos ficado de pé, ou seja, hemorróidas e problemas na coluna. As hemorróidas, devido à pressão do sangue no reto, que aumentou pela força da gravidade, enquanto que antes havia apenas a pressão do coração. A coluna, devido ao esforço extra de suportar nosso peso, que antes ficava distribuído pelas 4 patas.

    2. O joelho humano é mal projetado para a carga que tem que sustentar. E ficar muito tempo de joelhos pode provocar bursite devido ao excessivo esticamento da bursa (que cobre a rótula ou patela).

    3. O cotovelo tem nervos expostos que tornam muito dolorosa qualquer pancada. E o crânio não se reforçou o bastante para proteger o tamanho extra do cérebro humano.

    4. Parto doloroso: as fêmeas dos primatas podem fazer o próprio parto, puxando o filhote para fora com as próprias mãos. Nas mulheres, também por terem ficado de pé, o canal de saída é em curva e de tal forma que é preciso primeiro empurrar a cabeça numa direção e depois em outra até que ela saia, o que é quase impossível para a maioria das mulheres e resulta num parto demorado e doloroso e até na morte da mãe, em alguns casos. Um crente poderia alegar que isto é resultado do pecado original...

    5. Nosso sistema imunológico e a maioria dos outros é um festival de substâncias que são produzidas por nosso corpo para consertar alguma coisa ou ativar alguma função e que produzem efeitos colaterais que, por sua vez, são corrigidos por mais um grupo de substâncias que, por sua vez, etc. etc. Não parece um sistema projetado do zero e sim uma longa série de remendos em cima de remendos e que nunca fica bom. É desnecessariamente complicado e, por isto mesmo, ruim. Mas os crentes vêem nesta complexidade a prova de que houve um Criador.

    6. Nos homens, o canal urinário passa por dentro da próstata, uma glândula muito sujeita a infecções e ao inchamento resultante. Isto bloqueia a urina e é um problema comum em homens. Passar um tubo deformável através de um orgão que frequentemente se expande e bloqueia o fluxo no tubo não é um projeto inteligente. Qualquer idiota com meio cérebro (ou menos) projetaria "encanamentos" melhores para o homem.

    7. Os testículos se formam dentro da barriga e depois depois têm que passar pela parede abdominal e descer até o saco escrotal, deixando um ponto fraco (na verdade dois) na parede. Este ponto é o chamado canal inguinal e pode resultar em hérnia, deixando que os intestinos saiam e fiquem presos em baixo da pele. Os intestinos ficam prejudicados e o fluxo de sangue para os testículos se reduz ou é cortado. Além disso, às vezes um ou os dois testículos não descem. Grande design...

    8. Os testículos têm que ficar do lado de fora porque o calor do corpo reduz a fertilidade (o que não ocorre com os ovários). Além do problema acima, isto os deixa vulneráveis e deu origem à expressão "pé no saco".

    9. A maioria dos animais tem um olho de cada lado da cabeça. Os humanos também começam assim mas, durante a gestação, os olhos se movem para a frente. Em algumas pessoas, este deslocamento não é completo e elas ficam com os olhos muito separados.

    10. Nossa mandíbula reduziu-se em relação à de nossos antepassados. Os dentes do siso ficam meio que sobrando e nem chegam a nascer em algumas pessoas.

    11. O rabo que herdamos de nossos antepassados atrofiou-se e hoje nos resta apenas o cóccix mas, ainda que muito raramente, nascem crianças com rabo. Aparentemente, ocorre um problema com a programação genética para bloquear o crescimento do rabo durante a gestação.

    12. As mulheres já são capazes de engravidar aos 10 ou 11 anos mas, como o resto do corpo ainda não está preparado nesta idade, o crescimento é interrompido e ficam sequelas.

    13. A gravidez não é um processo saudável. Na verdade, consiste numa guerra imunológica entre a mãe e o "corpo estranho" em seu ventre, que pode causar a morte de bebês com fator RH diferente, e um dilúvio de hormônios e outras substâncias, dos quais a mulher emerge deformada e esgotada, às vezes até com uma forte depressão que leva algumas a rejeitar ou matar seus próprios filhos. A medicina moderna já tem meios de minimizar tudo isto mas a verdade é que, do ponto de vista da natureza, a saúde e o bem-estar da mãe não são importantes, desde que ela sobreviva por tempo suficiente para produzir a próxima geração e cuidar dela.

    14. A menstruação é um desperdício de sangue e energia. Preparar-se todos os meses para uma gravidez que quase nunca ocorre e depois jogar tudo fora está longe de ser a melhor solução. E o processo também envolve alterações hormonais que resultam na TPM, por exemplo, entre outros incômodos.

    15. O processo da fecundação não é uma coisa precisa e pode ocorrer fora do útero, como no caso da gravidez tubária.

    16. Ao contrário do homem, que está sempre produzindo novos espermatozóides, a mulher já nasce com todo o estoque de óvulos que usará durante a vida. Mas eles ficam velhos demais depois de uma certa idade, dando origem a crianças com problemas genéticos.

    17. Quando termina a idade fértil, vem a menopausa e a produção de hormônios se reduz ou cessa, deixando a mulher vulnerável a uma série de doenças.

    A única razão de a raça humana não se ter extinguido é sua inteligência, que lhe permite compensar com tecnologia suas deficiências e sua fragilidade.

    Os outros animais também apresentam claras evidências de evolução aleatória, como órgãos vestigiais, ou seja, asas que não servem para voar, dentes que existem em fetos de baleia e depois são reabsorvidos durante a gestação, guelras nos fetos de muitos animais (inclusive nos humanos) e que desaparecem, cobras com pernas atrofiadas etc. Ou então mutações em que características dos antepassados ressurgem. Tais esquisitices nem sempre atrapalham, mas comprovam que a evolução ocorreu por tentativas e as versões antigas foram se acumulando, ainda que atrofiadas, à medida em que versões mais eficientes surgiam. Ou seja, é um design porco, não um projeto em que cada versão é criada do zero, apenas com os elementos necessários. Sem remendos sobre remendos, e sim com a solução adequada.

    E para terminar:
    O inseto Xylocaris Maculipennis desenvolveu um hábito reprodutivo curioso conhecido como "estupro perfurante homossexual". Aparentemente, em algumas varidades deste inseto, o macho fecha a fêmea com um espécie de rolha após fertilizá-la para evitar que outros machos a fertilizem também. Algumas espécies se adaptaram a isto perfurando a fêmea durante a relação de modo a evitar o caminho normal e contornar a "rolha". O Xylocaris Maculipennis desenvolveu algo ainda mais drástico. O macho perfura e insemina outros machos à força de modo a que seus genes sejam carregados para as fêmeas quando o macho estuprado acasalar com elas. Deste modo, o estuprador insemina por procuração.

    Referência:
    http://www.talkorigins.org/faqs/jury-rigged.html

sábado, 1 de setembro de 2007

Há benefícios na religião?


Talvez seja injusto se atacarem as religiões em si pelos erros de alguns de seus seguidores. Talvez devamos nos concentrar apenas nas supostas coisas boas que elas produzem.

Por outro lado, se a maioria das religiões promete um mundo de paz e amor, seus bons resultados não deveriam causar espanto e sim o fato de que, em tantos casos, o resultado é o oposto.

Quem sabe, o objetivo está além de nossa capacidade, apesar de nossas boas intenções, mas o que se vê com frequência é que a intolerância e a violência acontecem justamente em nome da religião - e não apesar dela.

É bem possível que as pessoas sejam boas ou más por sua índole e o seriam de qualquer modo, independente de terem uma religião e do que ela diz.

Entretanto, já se disse que "pessoas boas fazem coisas boas, pessoas más fazem coisas más, mas é preciso uma religião para que pessoas boas façam coisas más". Podemos ainda acrescentar que, por serem contraditórias e sujeitas a interpretação, em muitos casos servem para legitimar injustiças e barbaridades, que têm que ser aceitas como "a vontade de Deus".

A verdade é que as religiões não são apenas um monte de mandamentos do tipo "Amai-vos uns aos outros". Elas contêm ameaças terríveis feitas por seus deuses aos que não as seguem e aconselham seus seguidores a, no mínimo, tentar converter os outros e se afastar de quem resiste à sua pregação.

Além disto, ao exigir a aceitação de dogmas apenas pela fé, sem provas, induzem as pessoas a desligar seu pensamento crítico e abrem as portas à aceitação de qualquer absurdo, o que só é limitado pelo bom senso e pelo senso ético de cada indivíduo.

Será que não seria melhor ter a moral das religiões que não ter nenhuma? Sim, mas isto equivale a ser melhor comer porcarias que morrer de fome. As religiões certamente incorporam alguns valores universais, mas os corrompem com imposições e dogmas absurdos, como a exigência do não questionamento.

sábado, 11 de agosto de 2007

Jesus - o incômodo silêncio da história

Quem é que nunca ouviu falar de Jesus de Nazaré? É claro que todo mundo ouviu falar de Jesus. A Bíblia nos diz que sua fama se espalhou por toda a Palestina e Síria. Ele é o homem-deus/salvador do mundo que realizou milagres que só um deus poderia realizar. Transformou água em vinho, alimentou milhares de pessoas com apenas alguns pedaços de pão e peixe, andou sobre as águas, acalmou tempestades, curou cegos, surdos e enfermos, recuperou mãos atrofiadas, expulsou demônios e ressuscitou os mortos. Seus ensinamentos morais são considerados superiores a tudo o que já foi ensinado.
Ele foi rejeitado por seu próprio povo, os judeus, e brutalmente crucificado pelos romanos. Mas isto não deteve Jesus. A Bíblia nos diz que, ao ser crucificado, céus e terra confirmaram sua divindade, causando um eclipse do sol de 3 horas em toda a terra, um terremoto que fez com que a cortina do templo em Jerusalém se rasgasse ao meio e que túmulos se abrissem e homens santos ressuscitassem e aparecessem às pessoas em Jerusalém. Três dias depois, o Filho de Deus derrotou o Diabo, o príncipe das trevas, ressuscitou dos mortos, apareceu a seus discípulos e então subiu aos céus. Como é possível alguém não gostar desta história nem desejar acreditar nela?
O problema que pesquisadores sinceros e com mentes objetivas têm com esta história espantosa é: por que os registros históricos de escritores gregos, romanos e judeus não cristãos praticamente não dizem nada sobre Jesus de Nazaré? Por que os registros romanos mencionam Pilatos, Caifás e Anás, mas ignoram Jesus e seus milagres? Certamente que notícias sobre acontecimentos como esses, se fossem verdadeiras, teriam se espalhado por todo o mundo mediterrâneo. E, no entanto, os escritos que sobreviveram, de uns 35 a 40 observadores independentes durante os primeiros 100 anos que se seguiram à suposta crucificação e ressurreição de Jesus, praticamente não confirmam nada. Estes autores eram respeitados, viajados, sabiam se expressar, observavam e analisavam os fatos, eram os filósofos, poetas, moralistas e historiadores daquela época. Entre as mais destacadas personalidades que não mencionam Jesus, temos:
Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) — Um dos mais famosos autores romanos sobre ética, filosofia e moral e um cientista que registrou eclipses e terremotos. As cartas que teria trocado com Paulo se revelaram uma fraude, mais tarde.
Plínio, o velho (23 d.C. – 79 d.C.) — História natural. Escreveu 37 livros sobre eventos como terremotos, eclipses e tratamentos médicos.
Quintiliano (39 d.C. – 96 d.C.) — Escreveu “Instituio Oratio”, 12 livros sobre moral e virtude.
Epitectus (55 d.C. – 135 d.C.) — Ex-escravo que se tornou renomado moralista e filósofo e escreveu sobre a “irmandade dos homens” e a importância de se ajudarem os pobres e oprimidos.
Marcial (38 d.C. – 103 d.C.) — Escreveu poemas épicos sobre as loucuras humanas e as várias personalidades do império romano.
Juvenal (55 d.C. – 127 d.C.) — Um dos maiores poetas satíricos de Roma. Escreveu sobre injustiça e tragédia no governo romano.
Plutarco (46 d.C. – 119 d.C.) — Escritor grego que viajou de Roma a Alexandria. Escreveu “Moralia”, sobre moral e ética.
Três romanos cujos escritos contêm referências mínimas a Cristo, Cresto ou cristãos:
Plínio, o jovem (61 d.C. – 113 d.C.) — Foi proconsul da Bitínia (atual Turquia). Numa carta ao imperador Trajano, em 112 d.C., pergunta o que fazer quanto aos cristãos que “se reúnem regularmente antes da aurora, em dias determinados, para cantar louvores a Cristo como se ele fosse um deus”. Uns oitenta anos depois da morte de Jesus, alguém estava adorando a um Cristo (messias, em hebraico)! Entretanto, nada se diz sobre se este Cristo era Jesus, o mestre milagreiro que foi crucificado e ressuscitou na Judéia ou se um Cristo mitológico das religiões pagãs de mistério. O próprio Jesus teria dito que haveria muitos falsos Cristos, portanto a afirmação de Plínio não contribui em muito para demonstrar que o Jesus de Nazaré existiu.
Ele também diz que "a carne das vítimas dos sacrifícios está sendo vendida por toda a parte". Que vítimas são essas? Mesmo que sejam animais, não tem nada a ver com o cristianismo. 
Suetônio (69 d.C. – 122 d.C.) — Em “A vida dos imperadores”, com a história de 11 imperadores, ele conta, em 120 d.C., sobre o imperador Cláudio (41 d.C. – 54 d.C.), que ele “expulsou de Roma os judeus que, sob a influência de Cresto, viviam causando tumultos”. Quem é Cresto? Não há menção a Jesus. Seria este Cresto um agitador judeu, um dos muitos falsos messias, ou um Cristo mítico? Este trecho não prova nada sobre a historicidade de um Jesus de Nazaré.
Tácito (56 d.C. – 120 d.C.) — Famoso historiador romano. Seu “Annuals”, referente ao período 14-68 d.C., Livro 15, capítulo 44, escrito por volta de 115 d.C., contém a primeira referência a Cristo como um homem executado na Judéia por Pôncio Pilatos. Tácito declara que “Cristo, o fundador, sofreu a pena de morte no reino de Tibério, por ordem do procurador Pôncio Pilatos”. Os estudiosos apontam várias razões para se suspeitar de que este trecho não seja de Tácito nem de registros romanos, e sim uma inserção posterior na obra de Tácito:
  1. A referência a Pilatos como procurador seria apropriada na época de Tácito, mas, na época de Pilatos, o título correto era “prefeito”.
  2. Se Tácito escreveu este trecho no início do segundo século, por que os Pais da Igreja, como Tertuliano, Clemente, Orígenes e até Eusébio, que tanto procuraram por provas da historicidade de Jesus, não o citam?
  3. Tácito só passa a ser citado por escritores cristãos a partir do século 15.
O que é claro e indiscutível é que um período de 80 a 100 anos sem nenhum registro histórico confiável, depois de fatos de tal magnitude, é longo o bastante para levantar suspeitas. Além do mais, é insuficiente citar três relatos tão curtos e tão pouco informativos para provar que existiu um messias judeu milagreiro chamado Jesus que seria Deus em forma humana, foi crucificado e ressuscitou.
Há três autores judeus importantes do primeiro século:
Philo-Judaeus (15 a.C. – 50 d.C.) — de Alexandria, era um teólogo-filósofo judeu que falava grego. Ele conhecia bem Jerusalém porque sua família morava lá. Escreveu muita coisa sobre história e religião judaica do ponto de vista grego e ensinou alguns conceitos que também aparecem no evangelho de João e nas epístolas de Paulo. Por exemplo: Deus e sua Palavra são um só; a Palavra é o filho primogênito de Deus; Deus criou o mundo através de sua palavra; Deus unifica todas as coisas através de sua Palavra; a Palavra é fonte de vida eterna; a Palavra habita em nós e entre nós; todo julgamento cabe à Palavra; a Palavra é imutável.
Philo também ensinou sobre Deus ser um espírito, sobre a Trindade, sobre virgens que dão à luz, judeus que pecam e irão para o inferno, pagãos que aceitam a Deus e irão para o céu e um Deus que é amor e perdoa. Entretanto, Philo, um judeu que viveu na vizinha Alexandria e que teria sido contemporâneo a Jesus, nunca menciona alguém com este nome nem nenhum milagreiro que teria sido crucificado e depois ressuscitou em Jerusalém, sem falar em eclipses, terremotos e santos judeus saindo dos túmulos e andando pela cidade. Por que? O completo silêncio de Philo é ensurdecedor!
Flavius Josephus (37 d.C. – 103 d.C.) — era um fariseu que nasceu em Jerusalém, vivia em Roma e escreveu “História dos judeus” (79 d.C.) e “Antiguidades dos judeus” (93 d.C.). Apologistas cristãos (defensores da fé) consideram o testemunho de Josephus sobre Jesus a única evidência garantida da historicidade de Jesus. O testemunho citado se encontra em “Antiguidades dos judeus”. Ao contrário dos apologistas, entretanto, muitos estudiosos, inclusive os autores da Encyclopedia Britannica, consideram o trecho “uma inserção posterior feita por copistas cristãos”. Ele diz que:
“Naquele tempo, nasceu Jesus, homem sábio, se é que se pode chamar homem, realizando coisas admiráveis e ensinando a todos os que quisessem inspirar-se na verdade. Não foi só seguido por muitos hebreus, como por alguns gregos, Era o Cristo. Sendo acusado por nossos chefes, do nosso país ante Pilatos, este o fez sacrificar. Seus seguidores não o abandonaram nem mesmo após sua morte. Vivo e ressuscitado, reapareceu ao terceiro dia após sua morte, como o haviam predito os santos profetas, quando realiza outras mil coisas milagrosas. A sociedade cristã que ainda hoje subsiste, tomou dele o nome que usa.”
Por que este trecho é considerado uma inserção posterior?
  1. Josephus era um fariseu. Só um cristão diria que Jesus era o Cristo. Josephus teria tido que renunciar às suas crenças para dizer isto, e Josephus morreu ainda um fariseu.
  2. Josephus costumava escrever capítulos e mais capítulos sobre gente insignificante e eventos obscuros. Como é possível que ele tenha despachado Jesus, uma pessoa tão importante, com apenas algumas frases?
  3. Os parágrafos antes e depois deste trecho descrevem como os romanos reprimiram violentamente as sucessivas rebeliões judaicas. O parágrafo anterior começa com “por aquela época, mais uma triste calamidade desorientou os judeus”. Será que “triste calamidade” se refere à vinda do “realizador de mil coisas milagrosas” ou aos romanos matando judeus? Esta suposta referência a Jesus não tem nada a ver com o parágrafo anterior. Parece mais uma inclusão posterior, fora de contexto.
  4. Finalmente, e o que é ainda mais convincente, se Josephus realmente tivesse feito esta referência a Jesus, os Pais da Igreja pelos 200 anos seguintes certamente o teriam usado para se defender das acusações de que Jesus seria apenas mais um mito. Contudo, Justino, Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes nunca citam este trecho. Sabemos que Orígenes leu Josephus porque ele deixou textos criticando Josephus por este atribuir a destruição de Jerusalém à morte de Tiago. Aliás, Orígenes declara expressamente que Josephus, que falava de João Batista, nunca reconheceu Jesus como o Messias (”Contra Celsum”, I, 47).
Não somente a referência de Josephus a Jesus parece fraudulenta como outras menções a fatos históricos em seus livros contradizem e omitem histórias do Novo Testamento:
  1. A Bíblia diz que João Batista foi morto por volta de 30 d.C., no início da vida pública de Jesus. Josephus, contudo, diz que Herodes matou João durante sua guerra contra o rei Aertus da Arábia, em 34 – 37 d.C.
  2. Josephus não menciona a celebração de Pentecostes em Jerusalém, quando, supostamente: judeus devotos de todas as nações se reuniram e receberam o Espírito Santo, sendo capazes de entender os apóstolos cada qual em sua própria língua; Pedro, um pescador judeu, se torna o líder da nova igreja; um colega fariseu de Josephus, Saulo de Tarso, se torna o apóstolo Paulo; a nova igreja passa por um crescimento explosivo na Palestina, Alexandria, Grécia e Roma, onde morava Josephus. O suposto martírio de Pedro e Paulo em Roma, por volta de 60 d.C., não é mencionado por Josephus. Os apologistas cristãos, que depositam tanta confiança na veracidade do testemunho de Josephus sobre Jesus, parecem não se importar com suas omissões posteriores.
A Encyclopedia Britannica afirma que os cristãos distorceram os fatos ao enxertar o trecho sobre Jesus. Isto é verdade? Eusébio (265-339 d.C.), reconhecido como o “Pai da história da Igreja” e nomeado supervisor da doutrina pelo imperador Constantino, escreve em seu “Preparação do evangelho”, ainda hoje publicado por editoras cristãs como a Baker House, que “às vezes é necessário mentir para beneficiar àqueles que requerem tal tratamento”. Eusébio, um dos cristãos que mais influenciou a história da Igreja, aprovou a fraude como meio de promover o cristianismo! A probabilidade de o cristianismo de Constantino ser uma fraude está diretamente relacionada à desesperada necessidade de encontrar evidências a favor da historicidade de Jesus. Sem o suposto testemunho de Josephus, não resta nehuma evidência confiável de origem não cristã.
Justus de Tiberíades é o terceiro escritor judeu do primeiro século. Seus escritos foram perdidos, mas Photius, patriarca de Constantinopla (878-886 d.C.), escreveu “Bibleotheca”, onde ele comenta a obra de Justus. Photius diz que “do advento de Cristo, das coisas que lhe aconteceram ou dos milagres que ele realizou, não há absolutamente nenhuma menção (em Justus)”. Justus vivia em Tiberíades, na Galiléia (João 6:23). Seus escritos são anteriores às “Antiguidades” de Josephus, de 93 d.C., portanto é provável que ele tenha vivido durante ou imediatamente após a suposta época de Jesus, mas é notável que nada tenha mencionado sobre ele.
A literatura rabínica seria logicamente o outro lugar para se pesquisar a historicidade de Jesus de Nazaré. O Novo Testamento alega que Jesus é o cumprimento da profecia judaica sobre o messias, crucificado no dia da Páscoa. Naquele dia, supostamente houve um terremoto em Jerusalém, a cortina de seu templo se rasgou de alto a baixo, houve um eclipse do sol, santos judeus ressuscitaram e andaram pela cidade. Três dias depois, Jesus ressuscitou e depois subiu aos céus diante de todos. Algum tempo depois, no dia de Pentecostes, os judeus de várias nações se reuniram e viram o Espírito Santo descer na forma de línguas de fogo; a igreja cristã se expandiu de forma explosiva entre judeus e pagãos, com sinais e milagres acontecendo por toda a parte. Em 70 d.C., Jerusalém foi cercada pelos romanos, que destruíram Israel como nação e dispersaram os judeus.
Ainda que os rabinos não aceitassem Jesus como o Messias, o impacto dos acontecimentos à volta de Jesus logicamente teria sido registrado nos comentários ao Talmud (os midrash). A história e a tradição oral dos judeus registradas nos midrash foram atualizadas e receberam sua forma final pelo rabino Jehudah ha-Qadosh por volta de 220 d.C. Em seu livro “O Jesus que os judeus nunca conheceram”, Frank Zindler diz que não há uma única fonte rabínica da época que fale da vida de um falso messias do primeiro século, dos acontecimentos envolvendo a crucificação e ressurreição de Jesus ou de qualquer pessoa que lembre o Jesus do cristianismo.
Não há locais históricos na Terra Santa que confirmem a historicidade de Jesus de Nazaré. Monges, padres e guias turísticos que levam peregrinos cristãos (aceitam-se doações) aos locais dos acontecimentos descritos na Bíblia dificilmente podem ser considerados pessoas isentas. Ainda citando Zindler, “Não há confirmação não tendenciosa desses locais.” Nazaré não é mencionada nem uma vez no Antigo Testamento. O Talmud cita 63 cidades da Galiléia, mas não Nazaré. Josephus menciona 45 cidades ou vilarejos da Galiléia, mas nem uma vez cita Nazaré. Josephus menciona Japha, que é um subúrbio da Nazaré de hoje. Lucas 4:28-30 diz que Nazaré tinha uma sinagoga e que a borda da colina sobre a qual ela tinha sido construída era alta o suficiente para que Jesus morresse se o tivessem realmente jogado lá de cima. Contudo, a Nazeré de nossos dias ocupa o fundo de um vale e a parte de baixo de uma colina. Não há “topo de colina”. Além disso, não há nenhum vestígio de sinagogas do primeiro século. Orígenes (182-254 d.C.), que viveu em Cesaréia, a umas 30 milhas da atual Nazaré, também não fala em Nazaré. A primeira referência à cidade surge em Eusébio, no século 4. O melhor que podemos imaginar é que Nazaré só surgiu depois do século 2. Esta falta de evidência histórica parece ser a explicação para o fato de não haver nenhuma menção a Nazaré em nenhum registro, de nenhuma origem não cristã. Ou seja, Nazaré não existia no primeiro século.
Não há tempo nem espaço para se falar de outras cidades significativas citadas no Novo Testamento, mas as evidências históricas e arqueológicas quanto a Cafarnaum (mencionada 16 vezes no N.T.) e Betânia, ou o Calvário, são, assim como no caso de Nazaré, igualmente fracas e até mesmo desmentem as Escrituras.
Mentes críticas e objetivas se destacam por procurar confirmação imparcial dos supostos fatos. Quando a única evidência disponível de um acontecimento ou de seus resultados é, não apenas questionável e suspeita, mas também aquilo que os divulgadores do acontecimento ou resultado querem que você acredite, convém desconfiar. O fato é que os escritores judeus não-cristãos, gregos e romanos das décadas que se seguiram à suposta crucificação e ressurreição de Jesus nada dizem sobre ninguém chamado Jesus de Nazaré. Uma pessoa justa sempre estará disposta a analisar novas evidências, mas, 2 mil anos depois, o cristianismo continua tendo tantas evidências imparciais sobre Jesus quanto sobre o Mágico de Oz, Zeus ou qualquer um dos muitos deuses-redentores daquela época.

Referências

  • “The Jesus the Jews Never Knew” por Frank R. Zindler
  • Encyclopedia Britannica
  • “Deconstructing Jesus” por Robert Price, Ph.D.
  • Obras completas de Josephus, tradução de William Whiston, Ph.D.
  • “The Jesus Puzzle” por Earl Doherty
  • “The Jesus Mysteries” por Timothy Freke e Peter Gandy
Autor: Lee Salisbury
Tradução: Fernando Silva
Fonte: http://dissidentvoice.org/Oct04/Salisbury1012.htm

sábado, 23 de junho de 2007

A "permanência" da Bíblia e a "indecisão" da ciência

Dizem os crentes que a Bíblia é superior à ciência porque nunca muda, enquanto que a ciência "não se decide" e a toda hora inventa novas explicações para as coisas.
Não percebem eles que quem nunca muda de ideia é burro, teimoso ou encontrou uma verdade (e nada é verdade até que se prove).

Mudar de ideia quando se encontra um erro é evoluir. Agarrar-se a velhas ideias sem se atrever a questioná-las é permanecer estagnado.
Foi mudando constantemente de ideia que a ciência nos trouxe das cavernas à civilização moderna.
Foi mudando de ideia (e ignorando a moralidade fossilizada da Bíblia) que a sociedade abandonou práticas como a escravidão e o tratamento das mulheres como seres inferiores.

Além disto, a Bíblia, além de ter várias versões, tem também milhares de interpretações, dando origem a outras tantas seitas, e são as interpretações que interessam.

Os que dizem seguir a Bíblia, "palavra imutável e inerrante de Deus", estão, na verdade e sem perceber, seguindo suas próprias opiniões e preconceitos, embora usem a Bíblia para legitimar-se.
Isto torna a tal "palavra de Deus" tão mutável e adaptável quanto a ciência, com a desvantagem de que, cedo ou tarde, cientistas acabam entrando num acordo sobre novas teorias, o que nunca foi o caso da religião.

É preciso lembrar também que a ciência produz resultados práticos: automóveis, aviões, televisão, celulares, computadores, as vacinas e toda a medicina moderna. As teorias por trás destes avanços podem estar incompletas e até incorretas, mas os resultados são reais.

E a religião, o que nos trouxe de palpável? O que mudaria em nossas vidas para pior se ela desaparecesse?
Milhares de religiões já se foram, muitas sem deixar vestígios, muitas outras terão o mesmo fim e a humanidade seguirá em frente.

"Respeite quem procura a verdade, desconfie de quem diz que a encontrou".

domingo, 14 de janeiro de 2007

Ateísmo - 10 mitos e 10 verdades


O termo "ateísmo" tornou-se tão estigmatizado nos EUA que ser ateu virou um total impedimento para uma carreira política, por exemplo. Segundo pesquisa da revista Newsweek, apenas 37% dos americanos votariam num ateu para presidente. É normal nos EUA, onde 87% da população diz "nunca duvidar" da existência de Deus e imagina que ateus são intolerantes, imorais e cegos para a beleza da natureza. Em vista disso, é importante derrubar mitos. Este artigo foi publicado originalmente no jornal Los Angeles Times.

IGNORÂNCIA DOS BENEFÍCIOS

Diz-se que os ateus ignoram o fato de que a religião é benéfica para a sociedade. Os que sublinham isso parecem nunca perceber que tais efeitos não conseguem demonstrar a verdade de nenhuma doutrina religiosa. Além disso, na maioria dos casos, parece que a religião dá às pessoas más razões para se comportar bem. O que é mais moral:ajudar os pobres por se preocupar com seu sofrimento ou ajudá-los por acreditar que o Criador quer que você o faça e o recompensará por fazê-lo ou o punirá por não fazê-lo?

SEM BASE MORAL

Alegam que o ateísmo não oferece base para a moralidade. Se uma pessoa ainda não entendeu que a crueldade é errada, não descobrirá isso lendo a Bíblia ou o Alcorão - já que esses livros transbordam de celebrações da crueldade, tanto humana quanto divina. Não tiramos nossa moralidade da religião. Decidimos o que é bom recorrendo a intuições morais embutidas em nós e refinadas por milhares de anos de reflexão sobre as causas e possibilidades da felicidade humana.

NÃO VÊEM SENTIDO NA VIDA

Pelo contrário: são os religiosos que se preocupam freqüentemente com a falta de sentido da vida e imaginam que ela só pode ser redimida pela promessa da felicidade eterna no além. Os ateus tendem a ser bastante seguros quanto ao valor da vida. A vida é imbuída de sentido ao ser vivida de modo real e completo. Nossas relações com aqueles que amamos têm sentido agora; não precisam durar para sempre para tê-lo.

CULPADOS POR CRIMES

As pessoas de fé alegam com freqüência que crimes de Hitler, Stalin e Mao foram produto inevitável da descrença. Mas o problema do fascismo e do comunismo é que são parecidos demais com religiões. Regimes assim são dogmáticos ao extremo e originam cultos à personalidade indistinguíveis da adoração religiosa. Campos de extermínio não são exemplos do que acontece quando os seres humanos rejeitam o dogma religioso; são exemplos do dogma político, racial e nacionalista.

ARROGÂNCIA

Quando os cientistas não sabem alguma coisa, eles admitem. Na ciência, fingir saber o que não se sabe é falha grave. Mas isso é o sangue vital da religião. Uma das ironias do discurso religioso é a freqüência com que as pessoas de fé se vangloriam de sua humildade e, ao mesmo tempo, alegam saber fatos sobre cosmologia, química e biologia que nenhum cientista conhece. Quando consideram questões sobre a natureza do cosmos, ateus tendem a buscar suas opiniões na ciência. Isso não é arrogância. É honestidade intelectual.

PAPEL NA CIÊNCIA

Há quem diga que o ateísmo não tem ligação com a ciência. Embora seja possível ser um cientista e ainda acreditar em Deus, não há dúvida de que um envolvimento com o pensamento científico tende a corroer, e não a sustentar, a fé. Tomando a população dos EUA como exemplo: quase 90% do público em geral acredita num deus pessoal, mas 93% dos membros da Academia Nacional de Ciências não acreditam.

FECHADOS À ESPIRITUALIDADE

Nada impede os ateus de experimentarem o amor, o êxtase, o arrebatamento e o temor. O que eles não tendem a fazer são afirmações injustificadas sobre a natureza da realidade com base nessas experiências. Não há dúvida de que alguns cristãos mudaram suas vidas para melhor lendo a Bíblia e rezando. O que isso prova? Prova que certas regras e códigos de conduta podem exercer um efeito profundo sobre a mente humana. Tais experiências positivas dos cristãos sugerem a existência de Deus? Nem remotamente, uma vez que hindus, budistas, muçulmanos - e até mesmo ateus - vivenciam experiências similares.

NADA ALÉM DA VIDA

Dizem que, para os ateus, não há nada além da vida e do entendimento humano. Mas é óbvio que não entendemos o universo completamente; e é ainda mais óbvio que nem a Bíblia nem o Alcorão refletem nosso melhor entendimento do universo. Não sabemos se há vida complexa em outro lugar do cosmos, mas pode haver. Se houver, esses seres podem ter desenvolvido uma compreensão das leis da natureza que excede a nossa.

Os ateus podem considerar essas possibilidades e admitir que, se existem extraterrestres, os conteúdos da Bíblia e do Alcorão serão para eles pouco impressionantes. Do ponto de vista ateísta, as religiões do mundo banalizam a verdadeira beleza e a verdadeira imensidão do universo. Não é preciso aceitar nada com base em provas insuficientes para fazer tal observação.

DOGMATISMO ATEÍSTA

Religiosos afirmam que suas escrituras só poderiam ter sido registradas sob orientação de uma divindade onisciente. Um ateu é simplesmente alguém que considerou esta afirmação, leu os livros e concluiu que ela é absurda. Não é preciso ser dogmático para rejeitar crenças religiosas injustificadas. Como disse o historiador Stephen Henry Roberts (1901-71): "Afirmo que ambos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que você. Quando você entender por que rejeita todos os outros deuses possíveis, entenderá por que rejeito o seu."

Fonte: Estadão
http://www.estado.com.br/editorias/2007/01/07/ger-1.93.7.20070107.22.1.xml?

Texto original:
10 myths-and 10 Truths-About Atheism de Sam Harris.
http://www.samharris.org/site/full_text/10-myths-and-10-truths-about-atheism1/