domingo, 11 de junho de 2023

Os papas e a sucessão apostólica - de Pedro até hoje

Segundo a Igreja Católica, o apóstolo Pedro foi o primeiro papa, nomeado por Jesus em pessoa, e depois veio uma sucessão ininterrupta de papas até os dias de hoje:
Pedro - Lino - Anacleto - Clemente I - etc. (sendo que cada um dos outros onze apóstolos também teve um sucessor, com a função de bispo).

É até possível que estas pessoas tenham existido, mas as primeiras não foram papas e a lista é questionável por várias razões:

1 - Os evangelhos não são um documento histórico confiável. Pode ter havido um mestre ou rabino, possivelmente chamado Jesus, que fundou uma seita e teve um Pedro entre seus seguidores, mas não há evidências de que as coisas tenham acontecido segundo eles relatam, mesmo porque Jesus e seus discípulos eram judeus e sua religião era uma seita judaica. Foram os "Paulos" que adaptaram a doutrina ao gosto dos gentios e expulsaram os judeus.

2 - Não há registros confiáveis dos primeiros tempos da Igreja. Ela só começou a existir como instituição bem mais tarde, sendo mencionada apenas a partir do evangelho de João, enquanto que Mateus, Marcos e Lucas, mais antigos, só pregam o respeito à doutrina deixada por Jesus, sem mencionar uma autoridade central.

3 - No início, a doutrina era livremente debatida pelos cristãos das várias comunidades espalhadas pelo mundo da época. Havia, em cada uma, pessoas mais respeitadas por sua idade, dons da profecia, da cura, "falar em línguas" ou conhecimentos, mas não uma hierarquia de poder que impusesse dogmas aos demais. A primeira autoridade foram os presbíteros, nomeados entre os anciãos. Sua influência era apenas local e, inicialmente, apenas administrativa, ficando a doutrina a cargo dos "tocados pela graça". Com o tempo, assumiram também funções religiosas.

O crescimento das comunidades, constituídas em geral por gente humilde e analfabeta, ou mesmo escravos, levou-as a contratarem supervisores letrados e de nível social mais elevado para administrar seus bens. Foi a palavra grega para "supervisor" (episkopos) que deu origem a "episcopum" em latim e, finalmente, a "bispo". Os bispos, inicialmente, tinham pouca autoridade, tendo sido preciso que as epístolas recomendassem que o mesmo respeito lhes fosse dado que aos presbíteros e profetas.

Mais tarde, sua influência cresceu, entre outros motivos porque controlavam o dinheiro e os bens das comunidades, e surgiram discussões sobre quem mandava mais, presbíteros ou bispos. Os bispos começaram a se meter em assuntos de dogmas e heresias, mas comentários irônicos de escritores da época mostram que ainda não eram levados a sério.

Acabaram tornando-se o topo da hierarquia, a ponto de se dizer que os fiéis deviam uma obediência completa aos bispos e que Jesus era o "bispo do mundo".

Ou seja, no cristianismo primitivo, não se falava em "igreja" e nem havia uma doutrina centralizada. Um século depois, os bispos tinham se tornado a Igreja, institucionalizada e dona da verdade, e os fiéis, apenas a periferia.

Eles conseguiram se impor e tornaram-se a autoridade máxima de cada região. Não havia ainda um poder central. Tertuliano criticou um bispo que pretendeu interferir em comunidades da Gália, por exemplo, perguntando-lhe se ele pretendia ser o "bispo dos bispos". O bispo de Roma só conseguiu algum respeito quando recebeu o apoio do imperador Constantino, no século IV. Na verdade, até hoje a fragmentação permanece, sendo um exemplo claro as várias igrejas ortodoxas, além da etíope, armênia, copta, indiana e outras.


4 - Segundo a Bíblia, Jesus deu a Pedro o poder de decidir sobre a doutrina, mas nada disse sobre sucessores (mesmo porque o fim estava próximo e ele voltaria em breve). A Igreja Católica decretou que esse poder foi transmitido aos papas, que seriam os sucessores de Pedro, mas os protestantes não concordam. E, na verdade, temos aí uma falácia (argumentação circular): "O papa tem poder porque está na Bíblia. A Bíblia está certa porque o papa assim determinou".

5 - Além da origem obscura, a sucessão dos papas não tem nada de ininterrupta. Houve períodos de "sede vacante" e épocas em que dois e até três papas, apoiados por facções rivais, disputavam o trono declarando-se, cada um, o papa legítimo. Mesmo hoje, há seitas tradicionalistas, surgidas em oposição ao Concílio Vaticano II, que não aceitam nenhum papa depois de Paulo VI.

Em resumo, uma gigantesca estrutura hierárquica, que se considera infalível e autorizada a definir os dogmas cristãos, mas apoiada sobre nada. Sobre um vazio.


segunda-feira, 8 de maio de 2023

Como foi definido o cânon da Bíblia

O Cânon Bíblico

Por Dalton Catunda Rocha - E-mail: daltonagre@uol.com.br

1- Como os textos bíblicos chegaram até nós?
Os textos bíblicos do antigo testamento começaram a serem escritos por volta do ano mil antes de Cristo. Os judeus sempre mantiveram e ainda mantêm, até hoje, uma tradição de copiar textos rigorosamente. Quando o cristianismo surgiu, no século I, os textos bíblicos foram sendo escritos e copiados. Por volta do ano 90 depois de Cristo, os textos do Novo Testamento foram terminados e, ao longo dos séculos, foram sendo escritos e copiados.

Vale destacar que, em tempos medievais, livros eram extremamente caros, tanto pelo altíssimo custo do material para escrever, como pela ausência de imprensa. Depois do colapso do Império Romano, o papiro que era o único material barato de escrita, embora fosse perecível, desapareceu dos mercados da Europa. Ficou o pergaminho, que era produzido com o couro de ovelhas e cabras. Um rebanho de mais de uma centena de ovelhas tinha que ter seu couro extraído para se produzir uma só bíblia. Tanto o conhecimento científico, como a literatura antiga, história, leis, peças teatrais e demais coisas da antiguidade só chegaram até nós pelo imenso esforço de monges e monjas medievais, que dedicaram as suas vidas a copiar livros.

No século IX, o papel, que havia sido inventado mais de 500 anos antes na China, passou a ser produzido na Espanha muçulmana. Logo a seguir, o papel foi mecanizado e melhorado na Europa católica de então. O papel era muito mais barato que o pergaminho e os livros se tornaram mais baratos. No entanto, somente com a imprensa de tipos móveis de Gutenberg, no século XV, é que a bíblia passou a ser acessível à maioria das pessoas.

Com a bíblia impressa, chegamos aos novos tempos, pois uma impressora pode fazer centenas ou milhares de bíblias sem erros. Ademais, uma bíblia impressa não somente é mais barata, como também é melhor que uma bíblia manuscrita. E ainda por cima ela é uniforme.

2-Como foi feito o cânon bíblico?
Ainda no século I, já havia inúmeras formas de cristianismo. Antes da chegada do ano 100 D.C., já existia cristianismo na Índia, Egito, Itália, Grécia, Etiópia, Sudão, etc. Por óbvias dificuldades de comunicação, era impossível que tivessem uma única relação de livros inspirados. Os textos que fazem parte do que hoje chamamos de bíblia já estavam prontos no ano 100 de nossa era, mas não existia uma bíblia única cristã. Se alguém procurasse uma bíblia para comprar na Europa ou qualquer outro lugar do mundo, nos séculos I e II, não acharia nenhuma à venda.

Uma proposta de cânon do Novo Testamento apareceu no século IV e supostamente datava do século II. Ela não listava como canônicos os livros Apocalipse, II Pedro, II e III João e Judas. O Cânon Muratori não cita a Epístola aos Hebreus como livro canônico. Por outro lado, este mesmo Cânon Muratori cita o livro O Pastor de Hermas como canônico. O mesmo Cânon Muratori cita o livro "Sabedoria" como canônico.

Quando o cristianismo foi legalizado pelo Imperador Constantino, no século III, este mandou que as diferentes correntes do cristianismo fizessem uma escritura de livros comum. Por meio de um concílio, os bispos decidiram que o cânon seria de 76 livros. Este concílio não teve unanimidade. No caso do livro do Apocalipse, por exemplo, os delegados do Bispo de Roma foram contra a sua inclusão no cânon bíblico. Somente no Concílio de Cartago, de 397, é que o livro do Apocalipse foi colocado no cânon bíblico.

Esta primeira bíblia cristã foi chamada de bíblia de São Dâmaso, nome do Papa sob a qual foi escrita. Evidentemente que os cristãos da Índia, Etiópia, etc. em nada sequer puderam saber desta primeira bíblia cristã. Mesmo na Europa, a esmagadora maioria do povo era analfabeta e ignorante. Uma bíblia no século IV custava muito mais caro que o patrimônio de mais de 98% da população europeia de então.

O cânon, ou a relação dos livros bíblicos, foi estabelecido por concílios. Tudo por decisão humana. Nenhum livro bíblico diz quais livros devem ser parte do cânon.

A história mostra que homens é que decidiram que livros fariam parte do cânon. Basta lembrar que o livro Macabeus 4 está escrito no Codex Sinaiticus e não faz parte nem da bíblia católica e nem da bíblia protestante.

Na Europa católica, o Concílio de Florença em 1442 manteve esta mesma bíblia, com 76 livros. O Concílio de Trento, no século seguinte, reduziu a bíblia católica a 73 livros, decisão ainda mantida até hoje, pela Igreja Católica. No Concílio de Jerusalém em 1672, a Igreja Ortodoxa Grega reduziu a sua bíblia para 70 livros.

No século XVIII, as várias denominações protestantes concordaram que a bíblia deveria ter 66 livros. Todas estas decisões quanto ao cânon bíblico foram tomadas por pessoas, em concílios. Tudo por decisão humana. Nem preciso dizer que cristãos etíopes têm, desde o século I, seus próprios escritos sagrados.

3-Por que alguns livros não foram aceitos entre os oficiais?
Tanto a aceitação como a rejeição de um dado texto para o cânon foi influenciada por decisão humana. Isto vem desde que os concílios existem e acontece até os dias de hoje. No século XIX, apareceu o famoso "Livro de Mórmon", que só foi aceito por um ramo do protestantismo e foi e ainda é ignorado ou criticado por todos os demais. Isto vem de longe.

O cânon aceitou, por exemplo, a Epístola aos Hebreus, que todos os entendidos sabem, há mais de mil anos, que não foi escrita por Paulo. Uma forjadura óbvia e de autor desconhecido, mas esta obra de autor desconhecido está em todas as bíblias. Todos os entendidos sabem que Mateus não escreveu o evangelho a ele atribuído, pois ele morrera há muito, mas, ainda assim, existe o evangelho segundo Mateus. Todos os entendidos sabem que os quatro evangelhos são relatos de segunda ou terceira mão. João não escreveu o seu evangelho.

O livro do Apocalipse teve a feroz oposição dos Papas em Roma, que sempre pressionaram para a sua retirada do cânon. Ele chegou a ser retirado, mas o Concílio de Cartago, em 397, o recolocou de volta ao cânon. Sim, o livro do Apocalipse foi colocado, depois retirado e depois recolocado na Bíblia.

O livro "Pastor de Hermas" foi considerado por Clemente de Alexandria, Tertuliano, Santo Irineu e Orígenes como inspirado. Os entendidos acham que Hermas é o homem citado por S. Paulo na Epístola aos Romanos, no seu final. Este livro era largamente lido nas igrejas cristãs da Grécia. No século V, o Papa Gelásio coloca tal livro entre os apócrifos. Uma decisão que ainda perdura. Uma farsa ficou e, ao mesmo tempo, uma obra de origem genuína saiu do cânon.

No século XVI, Martinho Lutero exigiu a retirada da "Epístola de São Tiago", do cânon bíblico. Lutero chamou tal livro de "Carta de palha". Também no século XVI, João Calvino exigiu a retirada do livro do Apocalipse do cânon bíblico. Ao contrário da decisão do Papa Gelásio, estas exigências, tanto de Lutero, como de Calvino, deram em nada. A colocação de um texto na Bíblia de um dado ramo do cristianismo depende da tradição e das necessidades terrenas.

4-Por que as Bíblias protestantes têm menos livros que as Bíblias católicas?
O citado Concílio de Florença em 1442 manteve a decisão, já do século IV, no Concílio de Cartago, em 397 D.C., de ter uma bíblia católica com 76 livros. Com a chamada Reforma Protestante, no século XVI, a Igreja Católica, através do Concílio de Trento, reduziu a Bíblia católica para 73 livros, decisão ainda em vigor nos dias de hoje.

Nesta redução da Bíblia, a Igreja Católica, pelas mãos de seu clero, mostrou que o mundo é quem decide o cânon. Assim, saiu da bíblia católica o livro 2 Esdras, que condena fortemente a reza pelos mortos, ou o pedido de coisas vindas dos mortos. Uma clara condenação do culto aos santos e reza pelos mortos no purgatório. Por outro lado, o mesmo Concílio de Trento manteve no cânon da Bíblia católica o livro 2 Macabeus, que claramente fala em rezas e sacrifícios pelos mortos. Não tem o menor sentido a ideia de que o Concílio de Trento tenha colocado livros na Bíblia católica. Livros como 1 e 2 Macabeus já estavam na Bíblia católica muito antes do Concílio de Trento. Há mais de mil bíblias do século XV hoje em museus e que foram impressas, e elas todas têm Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, por exemplo.

Quanto aos protestantes, apenas no século XVIII é que eles passaram a ter um relativo entendimento sobre qual Bíblia afinal defendiam. Eles cortaram a sua Bíblia para 66 livros. No caso do Novo Testamento, eles mantiveram a mesma lista de livros estabelecida no Concílio de Cartago, em 397. Os protestantes ignoraram as sugestões de Lutero e Calvino e simplesmente seguiram o mesmo cânon que a Igreja Católica usava desde 397.

Quanto ao Antigo Testamento, as denominações protestantes decidiram adotar o mesmo cânon estabelecido pelo Sínodo judaico de Jamnia em 100 D.C. Este Sínodo judaico não teve a presença de nenhum cristão das várias correntes de cristianismo, que já existiam no ano 100 D.C. Tal sínodo rejeitou como apócrifos todos os livros escritos após o ano 300 A.C. ou que não tivessem sido escritos originalmente em hebraico ou que tivessem sido escritos fora da Palestina. Na verdade, os judeus, até o citado Sínodo de Jamnia, usavam uma variedade de textos canônicos.

Nas cavernas de Cunrã há escritos do livro de Tobias, que é canônico segundo a bíblia católica. Nas mesmas cavernas de Cunrã encontraram-se fragmentos dos livros Enoque e Testamento de Levi, que jamais fizeram parte do cânon, quer católico quer protestante. Não tem sentido se dizer que os judeus nos tempos de Jesus rejeitavam Macabeus, Judite, Enoque. Isto só aconteceu no citado Sínodo Judaico de Jamnia, que só foi realizado no ano 100 D.C., quando o cristianismo não só estava já consolidado, como também já dividido.

A rejeição de 1 Macabeus e Judite também foi influenciada pela política mundana. Ambos os livros citados colocam a rebelião armada, contra um opressor, como sagrada e abençoada por Deus. No século XVIII, as nações protestantes queriam seus povos dominados quietos. É notório que, na luta pela independência americana, os católicos tiveram uma participação na luta muito maior que a sua participação na população americana. As sucessivas rebeliões na Irlanda tinham sempre católicos, que diziam seguir o dito nos livros 1 e 2 Macabeus. Tanto uma necessidade de se ter uma sanção dos judeus, como necessidades políticas mundanas, levaram ao fato das bíblias protestantes, desde a segunda metade do século XVIII, terem 66 livros.

Em suma, a primeira Bíblia cristã tinha 76 livros. Isto foi estabelecido por um concílio. O Concílio de Trento reduziu a Bíblia católica para 73 livros, retirando do cânon livros que condenassem explicitamente orações para os mortos. Ao mesmo tempo o mesmo concílio manteve 2 Macabeus que apoia rezas pelos mortos.

Os protestantes não tinham uma bíblia única que seguir. Levou mais de 300 anos para os protestantes terem uma bíblia única. A redução tanto se deveu a fatores políticos, como uma busca de sanção judaica, como a rejeição de orações pelos mortos, apoiadas por 2 Macabeus.

Pouco ou nada houve de busca por verdade em tal redução. Os entendidos sabem que a Epístola aos Hebreus é uma farsa, pois não foi escrita pelo apóstolo Paulo. Ela segue no cânon católico e protestante. No mesmo Novo Testamento foi excluído "Pastor de Hermas", que não foi uma forjadura e foi de fato escrito por Hermas.

No Antigo Testamento, a mesma coisa se repete. Os protestantes alegam rejeitar 1 Macabeus por ele ser supostamente falso. No entanto, 1 Macabeus tem indiscutível base histórica. O evento descrito no livro, a invasão de Israel, de fato aconteceu. Judas Macabeu de fato existiu. Nem por ser pelo menos em parte verdade, 1 Macabeus faz parte das bíblias protestantes. Por outro lado, nestas mesmas bíblias protestantes, há o livro de Gênesis que tem figuras como Adão, Eva, Caim, Abel, Noé; todas tão verdadeiras quanto o Super-homem ou a Mulher-Maravilha. A invasão de Israel descrita em 1 Macabeus de fato aconteceu, mas ela não faz parte das bíblias protestantes. O dilúvio universal e sua arca de Noé, com mais de 1.000.000 de espécies de plantas cuidadas apenas pela pequena família de Noé, nunca aconteceu, mas, mesmo assim, Gênesis está tanto nas Bíblias protestantes, como nas Bíblias católicas. Na Bíblia, Jonas fica dias vivo num peixe, mas Judas Macabeu, que de fato existiu, não aparece nas bíblias protestantes. Aonde a busca pela verdade?

Como escrevi antes, o cânon depende da tradição e das necessidades terrenas. A Igreja católica manteve 2 Macabeus na bíblia pois ele mantém a base bíblica para o purgatório e as missas pelos mortos. A mesma Igreja Católica excluiu do cânon o livro 2 Esdras, pois ele condenava rezas pelos mortos. Os protestantes excluíram 1 Macabeus pois ele supostamente apoiava rebeliões irlandesas, mas mantiveram as cartas de Paulo, com seu apoio à escravidão e submissão de mulheres, e fizeram o mesmo com uma farsa, como a Epístola aos Hebreus.

O cânon, tanto católico como protestante, é de origem e necessidade humana. Ambos os cânones foram feitos pensando neste mundo. Os protestantes simplesmente não precisavam de uma bíblia que tenha livros apoiando rebeliões, como 1 Macabeus, ou apoiando rezas pelos mortos, como 2 Macabeus. Por outro lado, os católicos não precisavam de livros que condenassem orações pelos mortos, como 2 Esdras. Por isto, a bíblia católica saiu de 76 para 73 livros e a bíblia protestante caiu ainda mais, para 66 livros.

Conclusão:
No momento em que pastores protestantes aparecem na TV garantindo que doenças mentais e físicas se devem à ação de demônios ou, eufemisticamente, "encostos", não se pode deixar de notar em quanto a Bíblia pode ser mal usada. A Bíblia é trabalho humano e, como tal, não está isenta de críticas. Como livro de ciência, a bíblia é absurda e falha, mesmo considerando o tempo em que foi escrita. Como livro de história, a bíblia mistura fato com fantasias, não sendo nem de longe infalível. Como livro religioso, a bíblia tem sido a fonte suposta ou real de dezenas de milhares de seitas, que não raro são apenas negócios fantasiados de religião. Devemos, sim, ler a bíblia, mas nunca com fé cega e falta de espírito crítico.

domingo, 9 de abril de 2023

Judeus, do politeísmo ao monoteísmo

 


Os judeus herdaram os deuses e deusas cananeus e babilônicos. Com o tempo, tornaram-se monólatras, ou seja, admitiam a existência de vários deuses, mas só adoravam a seu deus protetor (ou, pelo menos, uma parte deles o fazia). Após o exílio na Babilônia, tornaram-se monoteístas.

Essa transição é visível ao longo da Bíblia. O Salmo 82 nos apresenta o chamado “conselho divino”: uma espécie de Câmara dos Deputados dos deuses, na qual eles se reúnem para discutir assuntos importantes – um indício de que o Salmo foi escrito antes do próprio início da Bíblia, que já começa apresentando Javé como deus único. A ideia, ali, é que El preside o conselho e seus filhos ou subordinados discursam:

"É Deus quem preside na assembleia divina; no meio dos deuses, ele é o juiz". (Salmos 82:1)

Lá, Javé aparentemente perde a paciência:

Deus se levanta no conselho divino, em meio aos deuses ele julga: ”Até quando vocês julgarão injustamente, sustentando a causa dos injustos? (…) “Eu declaro: embora vocês sejam deuses, e todos filhos do Altíssimo, morrerão como qualquer homem” (Salmos 82:2-7)

El era o deus principal. Ele teve 70 filhos com Asherah, entre eles Baal e Javé. Cada um ficou responsável por uma nação da Terra. Javé, que era também o deus dos exércitos e das tempestades, recebeu Israel.

Isto fica claro nos Manuscritos do Mar Morto e no Deuteronômio 32:8-10 da Septuaginta. O texto massorético, mais tarde, tentou esconder o politeísmo mudando para "filhos de Israel" no trecho "de acordo com o número dos filhos de Deus".

"8. Quando o Altíssimo (El) dividia os povos e dispersava os filhos dos homens, fixou limites aos povos, segundo o número dos filhos de Deus.

9. Entretanto, a parte do Senhor (Javé) era o seu povo, e Jacó, a porção de sua herança.

10. Em terra deserta o encontrou, entre bramidos de regiões desoladas, e o cercou de cuidados e o acalentou, e o guardou como a menina dos olhos! "

(Deuteronômio, 32:08-10 - Bíblia Católica Online)

 Entre o oitavo para o sexto séculos, El confundiu-se com Javé e Javé-El se tornou o marido da deusa Asherah. Os outros deuses e os mensageiros divinos gradualmente tornaram-se meras expressões do poder de Javé. Javé assume o papel do Rei Divino, decidindo sobre todas as outras divindades, como no Salmo 29:2, onde os "filhos de Deus" são chamados a adorar Javé, e como Ezequiel 8-10 sugere, o próprio Templo tornou-se palácio de Javé, povoado por aqueles em sua comitiva. 

Em Êxodo 20:05 fica clara a monolatria (ou henoteísmo): é reconhecida a existência de vários deuses, mas Javé diz a Moisés que é um "deus ciumento" e exige adoração exclusiva em troca de proteção.

A deusa Asherah era cultuada na forma de uma árvore ou, nos acampamentos e interior dos templos, um poste. Mais tarde, quando os judeus começaram a adotar o monoteísmo, por volta do século 7aC, Asherah e os outros deuses foram proibidos:

"14. Quebrou as estátuas, cortou os ídolos asserás e encheu o lugar com ossos humanos.

15. Destruiu também o altar de Betel e o lugar alto que tinha edificado Jeroboão, filho de Nabat, que arrastara Israel ao pecado. Ele os destruiu, queimou e reduziu a cinzas o lugar alto, incendiando igualmente a asserá" 

 (II Reis, 23:14-15 - Bíblia Católica Online - https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/ii-reis/23/)

É neste período que as primeiras declarações monoteístas claras aparecem na Bíblia, por exemplo, aparentemente no Deuteronômio do século VII 04:35, 39, 1 Samuel 02:02, 2 Samuel 07:22, 2 Reis 19:15, 19 (= Isaías 37:16, 20), e Jeremias 16:19,20 e a parte do século VI de Isaías 43:10-11, 44:6, 8, 45:5-7, 14, 18, 21 e 46:9. Como muitas das passagens envolvidas aparecem em trabalhos associados ou no Deuteronômio, a história deuteronomista (Josué a Reis) ou em Jeremias, trabalhos acadêmicos mais recentes têm sugerido que um movimento deuteronomista deste período desenvolveu a ideia do monoteísmo como uma resposta às questões religiosas do seu tempo.

Fonte: https://histriadasreligies.blogspot.com/2013/05/yahweh-ou-jave-origem-do-deus-de-israel.html

Outros trechos:

2 Reis 1:02-03 - um anjo admite que há outros deuses além de Javé, embora recrimine quem lhes peça ajuda.

Exo 15:11 - Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses?

Exo 18:11 - Agora sei que o Senhor é maior que todos os deuses ...

Exo 22:20 - O que sacrificar aos deuses, e não só ao Senhor, será morto.

Exo 23:13 - ... do nome de outros deuses nem vos lembreis ...

Exo 23:24 - Não te inclinarás diante dos seus deuses ...

Exo 23:32 - Não farás aliança alguma com eles, ou com os seus deuses.

Num 33:4 - ... o Senhor executado juízos também contra os seus deuses.

Deu 6:14 - Não seguireis outros deuses, os deuses dos povos que houver ao redor de vós

Deu 10:17 - Pois o Senhor vosso Deus é o Deus dos deuses, ...

Jos 22:22 - O Senhor Deus dos deuses, o Senhor Deus dos deuses, ...

Sal 82:1 - DEUS está na congregação dos poderosos; julga no meio dos deuses.

Sal 86:8 - Entre os deuses não há semelhante a ti, Senhor, nem há obras como as tuas.

Sal 95:3 - Porque o Senhor é Deus grande, e Rei grande sobre todos os deuses.

Sal 136:2 - Louvai ao Deus dos deuses; porque a sua benignidade dura para sempre.

Sal 138:1 - EU te louvarei, de todo o meu coração; na presença dos deuses a ti cantarei louvores.

Isa 36:20 - Quais dentre todos os deuses destes países livraram a sua terra das minhas mãos, para que o Senhor livrasse a Jerusalém das minhas mãos?

Deuses egípcios na Bíblia

Em Êxodo 7:10-13, Moisés exige que o faraó liberte os hebreus. Podemos perceber que, por trás do confronto entre os dois homens, existe uma luta entre o deus de Israel e os deuses egípcios, com a vitória do primeiro. As ações das divindades que defendiam o faraó não são citadas diretamente (de certo porque não interessava aos judeus fazer propaganda da concorrência), mas são claramente subentendidas, como na passagem em que os sacerdotes do Egito transformam seus cajados em cobras, exatamente como fez Moisés. No final, a serpente de Moisés devora as serpentes egípcias, sugerindo que o deus dele era mais poderoso que as divindades estrangeiras, de onde se entende que a existência destas divindades era aceita pelos israelitas.

Asherah, a esposa de Javé

Asherah era uma deusa mãe ou da fertilidade, relacionada a outras deusas da região como Ishtar e Astarte.

O livro de Jeremias, escrito por volta de 628 a.C., refere-se a Aserá quando menciona a "Rainha dos Céus" nos capítulos 7:18

"Os filhos apanharam a lenha, e os pais acedem o fogo, e as mulheres preparam a massa, para fazerem bolos à Rainha dos Céus, e oferecem libações para outros deuses, para me provocarem a ira"

Mas, mais comumente, talvez, Aserá era adorada dentro da casa, e suas ofertas eram realizadas por matriarcas da família. Como as mulheres de Jerusalém atestaram:

"E acrescentaram as mulheres: 'Julgas que nós adorávamos a Rainha dos Céus, lhe oferecíamos as nossas libações e fazíamos bolos com a sua imagem, tudo isso sem os nossos maridos soubessem e nos ajudassem? Com certeza que não!'”(Jeremias 44:19).

Esta passagem corrobora várias escavações arqueológicas que mostram espaços de altar em lares hebreus. Os "ídolos domésticos" mencionados na Bíblia também podem estar ligados às centenas de estatuetas femininas da Base de Pilar que foram descobertas.

Josias é relatado como cortando as estátuas de Aserá no templo que Salomão construiu para o Senhor (II Reis 23:14). O avô de Josias, Manassés, erigira uma dessas estátuas.(II Reis 21:7)

Após o exílio, as referências ao politeísmo foram fortemente editadas nas escrituras judaicas. Oséias, por exemplo, critica uma deusa que está associada a árvores, mas cujo nome nunca é mencionado. A "Rainha do Céu" também é anônima em Jeremias, apesar de ser amplamente reverenciada. Como as mulheres de Jerusalém atestaram:

"Faremos o que bem nos apetece. Queimaremos incenso à Rainha dos Céus. Apresentar-lhe-emos sacrifícios, tantos quanto quisermos, tal como já nós próprios fizemos e os nossos pais antes de nós, assim como os nossos reis e nobres sempre fizeram nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém. E nesses dias até tínhamos abundância de comida, tudo nos corria bem e éramos felizes!" (Jeremias 44:17).

O nome Aserá aparece quarenta vezes na bíblia hebraica, mas é muito reduzido nas traduções seguintes. A palavra ʾăšērâ é traduzida em grego como ἄλσος (bosque; plural: ἄλση) em todos os casos, exceto em Isaías 17:8; 27:9 e II Crônicas 15:16; 24:18, com δένδρα (árvores) e Ἀστάρτη (Astarte), respectivamente. A Vulgata em latim forneceu lucus ou nemus, um bosque ou bosque. A associação de Aserá com árvores na Bíblia Hebraica é muito forte. Por exemplo, ela é encontrada sob árvores (I Reis 14:23; II Reis 17:10) e é feita de madeira por seres humanos (I Reis 14:15, II Reis 16:3-4). As árvores descritas como sendo uma aserá ou parte de uma aserá incluem videiras, romãs, nozes, murtas e salgueiros.

Diversos trechos da Bíblia em grego ou em hebraico, quando traduzidos para o português, por erro ou omissão acabam omitindo referências a Asará. Como em 2 Reis 21:7:

  • "Ele tomou o poste sagrado que havia feito e o pôs no templo, do qual o Senhor tinha dito a Davi e a seu filho Salomão: “Neste templo e em Jerusalém, que escolhi dentre todas as tri/bos de Israel, porei o meu nome para sempre." na Nova Versão Internacional, de 2000, por Biblica, Inc.

  • "Pôs um ídolo de Achera no templo, no lugar acerca do qual o Senhor tinha dito a David e a Salomão: “Colocarei para sempre o meu nome neste templo e em Jerusalém, a cidade que escolhi entre todas as tribos de Israel." em O Livro, de 2000, por Biblica, Inc.

  • "Também pôs uma imagem de escultura, do bosque que tinha feito, na casa de que o Senhor dissera a Davi e a Salomão, seu filho: Nesta casa e em Jerusalém, que escolhi de todas as tribos de Israel, porei o meu nome para sempre." na Almeida Revista e Corrigida 2009 pela Sociedade Bíblica do Brasil.

  • "Manassés chegou a fazer uma imagem esculpida da deusa Aserá e colocá-la no templo, sobre o qual o Senhor tinha dito a Davi e a seu filho Salomão: “Meu nome será honrado para sempre neste templo em Jerusalém, a cidade que escolhi dentre todas as tribos de Israel." na Nova Versão Transformadora de 2016 por Mundo Cristão.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Aser%C3%A1

quarta-feira, 22 de março de 2023

Minha desconversão

 Sou um ex-católico e minha desconversão foi um processo lento e indolor se comparada às histórias traumáticas que a gente encontra na Internet. Minha família era, e ainda é, profundamente católica, mas a religião nunca foi baseada no terrível medo do Inferno. Tampouco nos disseram que não temos nenhum valor diante de Deus e que a “salvação” é para poucos.

 Na parede das salas de aula dos colégios religiosos onde estudei, havia um quadrinho com a inscrição “Deus me vê”, tipo um Big Brother, mas o descreviam como um deus benevolente e que perdoava. Era realmente preciso insistir em ir para o inferno (embora eu não entendesse por que alguém faria isso).

No entanto, era preciso ir à missa todos os domingos e, todo dia à noite, nos ajoelhávamos em casa para rezar o terço, sem falar nas orações antes de dormir, confissões frequentes e aulas de religião.

Até meus 12 anos, eu me sentia confortável com minha fé. Não gostava de ir à igreja, não gostava de rezar o terço, mas, em geral, o assunto não me incomodava.

Eu tinha longas discussões comigo mesmo em que a parte racional da minha mente tentava explicar as coisas de forma racional enquanto que a parte religiosa apelava para a fé. Por longos anos, os debates terminavam em “Bom, deve haver uma explicação, mas eu sou muito limitado para entender. Quando eu morrer e for para o céu, tudo ficará claro”.

Por exemplo, sempre me incomodou que “é melhor acreditar sem ter visto do que ver e só então acreditar”. Ou que crianças que morrem sem ser batizadas vão para um lugar mal definido chamado Limbo em vez de direto para o Céu. Ou que Jesus teve que morrer por causa dos meus pecados (isto me fazia sentir culpado, de certa forma, embora eu não entendesse que pecados seriam esses).

Disseram-nos que acreditar em Adão e Eva e nas histórias do Gênesis não era obrigatório; foi apenas o jeito que Deus usou para explicar as coisas a nossos ancestrais primitivos. Entretanto, o “Pecado Original” era um dogma (e eu não consegui entender como eu poderia já nascer culpado por alguma coisa que eu não tinha feito). Tentava não pensar muito a respeito, mas sentia que havia algo de estranho quanto aos profetas e seus escritos divinamente inspirados. Por que a inspiração parou? Como saber se aquilo tudo era verdade? Eu tinha que confessar meus pecados frequentemente – e esperava-se que eu me arrependesse sinceramente deles e estivesse firmemente disposto a não pecar mais. Só que eu sabia muito bem que acabaria fazendo tudo de novo, mais cedo ou mais tarde.

Esta certeza só cresceu quando veio a adolescência e minha mente vivia cheia de pensamentos “impuros”. Eu passava algum tempo torturado por sentimentos de culpa até ter a coragem de confessar tudo. Saía de lá me sentindo limpo e começava a “pecar” novamente. Depois de repetir este ciclo por muitos anos, concluí que confessar não fazia sentido. E, como eu não tinha me confessado, não podia comungar. Um dia, me dei conta de que já fazia mais de dez anos que eu não me confessava nem comungava. Por sorte, eu ia à missa sozinho e minha família nunca percebeu.

Nota: se vocês aí não forem católicos, talvez não façam ideia de quão ridículo e desagradável é a confissão. Ou seja, ajoelhar-se diante de um completo estranho e lhe sussurrar seus pensamentos mais íntimos na esperança de que ele não ache que você foi longe demais para merecer a absolvição. Daí, ele vai sussurrar de volta no seu ouvido, com perdigotos e mau hálito, conselhos padronizados e uma lista de orações para rezar como penitência. Senhoras idosas, entretanto, parecem gostar disso. Deve ser, para elas, um psicanalista gratuito. Uma plateia cativa, disposta a ouvir todos os seus probleminhas e preocupações. Como tendem a ser meio surdas, falam alto demais e as pessoas em volta têm que fingir que não estão escutando.

Eu tinha um livro de orações em que cada uma era acompanhada de seu valor em indulgências, ou seja, se você rezasse uma oração de “um dia”, seu tempo no Purgatório seria reduzido de um dia. Havia algumas que valiam semanas e mesmo meses, portanto eu só rezava estas e me perguntava por que perder tempo com as de um dia e por que elas faziam parte do livro.

Também me disseram que eu deveria me sentir emocionado, arrebatado, durante a missa, já que ela era a renovação do sacrifício de Jesus na cruz. Por alguma razão, tudo o que eu sentia era tédio (e culpa por esse tédio).

Bem, a lista poderia continuar indefinidamente. Entretanto, minha fé nunca vacilava. A religião era, para mim, um fato da vida assim como escovar os dentes. Muito chata, certamente, mas necessária e inevitável.

Além disto, eu não tinha contato com o ateísmo. Sabia que existiam descrentes e outras religiões, mas nunca fui exposto a ideias racionais. Uma única vez, quando eu tinha uns 10 anos, li algo num jornal sobre a possibilidade de os discípulos terem roubado o corpo de Jesus do túmulo para dar a impressão de que ele tinha ressuscitado. Nada de mais. Na verdade, uma citação dos evangelhos, mas eu fiquei tão chocado que a ideia foi enterrada na minha mente e só voltou à superfície décadas depois. Até onde eu conseguia perceber, havia pecadores, mas não havia contradições. O que me diziam em casa era confirmado na escola, nas ruas, nos jornais, na TV.

As dúvidas que a parte sã da minha mente vivia trazendo à tona eram rapidamente varridas para baixo do tapete e esquecidas. Eu vivia numa espécie de “Show de Truman”, sem nenhuma esquisitice para me fazer suspeitar de que minha fé fosse uma ilusão. Por outro lado, embora assumisse minha fé sem problemas em família, eu tinha vergonha de me assumir como católico em público. Quando perguntavam qual a minha religião, eu resmungava algo como “sou católico, eu acho”. Entrava na igreja pela porta lateral, menos visível. Fazer proselitismo nem me passava pela cabeça.

Embora eu acreditasse na firmeza da minha fé, eu achava desconfortável impingi-la aos outros. Não me parecia ter nada de convincente o bastante para lhes dizer, portanto deixava para lá. Como eu não entendia por que eu acreditava, não conseguia defender minhas convicções, embora nem pensasse em rejeitá-las.

Lá pelos meus vinte e tantos anos, vivendo em meio a pessoas com uma religião bem menos estrita que a minha, concluí que elas não estavam fazendo mal a ninguém e, por não acharem que aquilo que faziam era pecado, não iriam para o Inferno. Eu, por outro lado, não podia fazer como eles porque era pecado para mim e eu seria castigado por Deus.

Aos 12 anos, veio o primeiro golpe sério. O papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano II e, tendo ele a mente mais aberta que seus antecessores, as pessoas começaram a discutir e reavaliar tudo. Ele morreu antes que o concílio terminasse e seu sucessor, Paulo VI, um conservador, tentou frear o movimento. Entretanto, seguiu-se um período de livre experimentação e muitas coisas mudaram. Parte dos católicos rejeitou as novidades e cismas deram origem a facções, algumas até negando a autoridade dos papas a partir dali. Minha família não gostou muito dessas ideias, mas seguiu em frente. Na minha cabeça, entretanto, a Rocha Inabalável de 2 mil anos tinha se rachado. Tentei não pensar muito a respeito, mas a semente da dúvida foi plantada.

Passei a procurar igrejas com padres mais velhos, que resistiam às mudanças na liturgia. Por volta dos meus 40 anos, as igrejas pentecostais, até então uma minoria no Brasil, começaram a proliferar e a atrair católicos. Outros católicos reagiram criando o Movimento Carismático para atraí-los de volta. Eu achava os pentecostais ridículos, mas os carismáticos, uma caricatura dos pentecostais, eram ainda pior.

Vi tais inovações como um desrespeito à tradição e me irritavam tanto que, inicialmente, eu passava a missa tentando pensar em outras coisas e cochilava durante os longos e chatos sermões. As músicas já não podiam mais ser chamadas de hinos. Eram acompanhadas por bandas com guitarras e percussão e pareciam inspiradas no Xou da Xuxa. A audiência (não mais a assembleia) dançava e batia palmas. Bem diferente dos hinos solenes acompanhados de órgão e incenso da minha infância.

Canções bobinhas e letras tolas que tentavam transmitir mensagens “bonitinhas”. A palavra “amor” era repetida tantas vezes ao longo da missa que perdia o sentido e me irritava.

Uma das coisas que eu detestava era ter que dar as mãos às pessoas de cada lado enquanto cantávamos o Pai Nosso. Eu até gostaria se fossem meninas bonitas, mas, por alguma razão, meninas bonitas pareciam ter coisas melhores a fazer que ir à missa, portanto eu acabava segurando a mão de outros homens. Acabou que eu passei a sair do meu lugar e ficar no corredor quando chegava esse momento. Não adiantava cruzar os braços e fingir que estava distraído. Eles ficavam me cutucando e insistindo em segurar a minha mão.

Durante o sermão, o padre sussurrava com uma voz de “latin lover” e, de repente, começava a gritar. Eu detestava sua voz fingida, detestava seus gritos. Cheiravam a motivação, a lavagem cerebral. E eu detesto técnicas de motivação. Se ele precisava de tais truques, talvez sua mensagem não fosse tão convincente assim.

Dava para suportar as missas chatas dos padres mais velhos. Pelo menos, não eram revoltantes. Mas os padres jovens sempre vinham com novas ideias para “animar” a celebração e incentivar a participação de todos. Aos poucos, eu comecei a fazer o, até então, impensável: ir à missa, mas ir embora quando via que era um padre novidadeiro. Ao longo de 40 anos, eu nunca tinha faltado a uma missa e agora deixava de assistir uma depois da outra. Eu dizia a mim mesmo: “Bom, eu tentei. Vim até a igreja. Mas não tenho que aturar isto”.

A partir daí, ficou mais fácil encarar minhas dúvidas. Passei a questionar o que ouvia em vez de tentar cochilar. Anotava minhas ideias e as coisas que me pareciam absurdas. Um dia, sentei-me ao computador e comecei a desenvolver as anotações num documento que cada vez ficava maior.

Eu ainda me via como católico, mas a ideia de inferno, por exemplo, parecia-me inaceitável. Se realmente houvesse um inferno, estaria vazio. Também era contra a proibição do controle da natalidade. Qual o problema moral com pílulas e camisinhas? Por que tínhamos que continuamente louvar a Deus por suas supostas bondades? Que bondades? Com que direito ele tinha me jogado neste vale de lágrimas sem perguntar se eu aceitava? Por que eu tinha que me submeter a um teste que eu não tinha pedido, sendo que, se fracassasse, seria eternamente punido?

Por que tinha que acreditar num deus que nunca vi só porque algumas pessoas diziam que ele existia? Por que ele não se dirigia diretamente a mim e me dizia o que queria? Por que havia tantas religiões, todas elas se declarando a única verdadeira?

Eu ainda não estava pronto para abandonar a fé, mas comecei a achar que os ensinamentos de Jesus tinham sido mal interpretados pela Igreja ao longo dos séculos. Na época, eu conhecia muito pouco da Bíblia exceto pelos trechos lidos durante as missas. O Antigo Testamento não era importante, para fins de doutrina, e o Novo Testamento parecia mais ou menos coerente.

O que acelerou o processo foi encontrar na Internet, por acaso, um site dedicado à Deusa Mãe e sobre como a sociedade patriarcal tinha pervertido a humanidade. Havia longos textos dedicados aos deuses e deusas da Babilônia e como eles tinham originado Yaveh, o deus dos judeus. Esta frase foi fundamental: “Tendemos a achar que Yaveh se manifestou aos hebreus em algum ponto de sua história, mas, na verdade, ele é uma mistura dos vários deuses que eles encontraram e adotaram ao longo de sua vida nomádica. Ele pode ser rastreado até El, o deus de Ur onde Abraão nasceu. Mas ele também é Asherah ou Ishtar e muitos outros, todos somados. Isto porque os hebreus não eram monoteístas. Embora se comprometessem a adorar apenas a Yaveh, eles aceitavam a existência dos outros deuses. Em troca desta adoração exclusiva, Yaveh lhes daria proteção contra os outros povos e seus deuses”.

O texto também citava passagens da Bíblia em que Deus se dizia com ciúme dos outros deuses, além de seus atos e comandos violentos e sanguinários. Achei isto interessante e comecei a pesquisar o assunto mais a fundo.

Também descobri que não estava sozinho. Durante séculos, houve ateus e eles tiveram ideias que nunca tinham me ocorrido. Percebi que a história da Igreja Católica não era nada santa. A Inquisição e as Cruzadas me apareceram sob nova luz. A Bíblia se mostrou um livro violento, cheio de sangue e contradições, escrita por tribos bárbaras da Idade do Bronze, não algo inspirado por Deus. Ou seja, nada de “O livro bom”.

Finalmente, o peso acumulado do que eu tinha descoberto e dos meus próprios pensamentos tornou impossível continuar fingindo para mim mesmo que eu ainda era católico. Não foi repentino e sim mais como um lento despertar, em que sonho e realidade coexistem por algum tempo. Mas é difícil abandonar velhos hábitos e eu ainda sentia que tinha que ir à missa todos os domingos. Não queria cortar esse último laço. Certo domingo, entretanto, já pronto para sair, desabou uma chuva forte. Eu parei para pensar e decidi que não queria enfrentar chuva e vento para chegar à igreja e ficar por uma hora todo molhado naquele lugar quente, lotado e abafado, ouvindo baboseiras que só me irritavam. Não fui naquele dia e nunca mais fui.

Lembro-me de que, naquele dia, eu me sentei e perguntei: “Então é isso? Toda uma vida indo à igreja, todas aquelas missas e orações e sentimentos de culpa … acabaram-se? Tudo aquilo em que eu acreditava?”

Não foi traumático, apenas a melancolia de perceber que algo havia terminado para sempre, algo com que eu estava tão acostumado. Não senti falta de Deus. Eu tinha rezado para ele todos os dias porque achava que era obrigatório e pedido favores na esperança de que ele talvez me ouvisse, mas nunca tive nenhuma ligação emocional. Ele tinha sido sempre um estranho, distante e silencioso (mas sinto falta de Papai Noel …).

Encontrei muitos sites ateus na Internet, muitos fóruns com debates interessantes. Toda essa riqueza de fatos e ideias e eu tinha passado 42 anos da minha vida na mais completa ignorância!

Preferi não dizer nada à minha família. Eles não entenderiam e poderia haver conflitos. Além disto, meus pais já eram idosos e com problemas de saúde. Não vi motivos para estressá-los. E também porque, para eles, a fé era confortadora. Mesmo nos piores momentos de seus problemas de saúde, eles diziam coisas como “Se eu aceito as coisas boas que Deus me manda, tenho que aceitar também as ruins”. Ou “Jesus sofreu tanto por mim! Eu quero compartilhar seu sofrimento”. E assim por diante. Eu não queria tirar isto deles (e nem conseguiria). Não queria angustiá-los no fim de suas vidas.

Quanto às outras pessoas, no início, espantado com minhas descobertas – e também com raiva por ter me deixado enganar por tanto tempo – eu queria contar para todo mundo, despertá-los, fazê-los ver o óbvio. Tive longas conversas com gente religiosa na Internet e com colegas de trabalho. Foi muito instrutivo e me ajudou a refinar meus argumentos, mas também me mostrou que eu era uma exceção.

Um crente que está feliz com sua fé não se desconverterá. Se eles acreditam em que dois mais dois são cinco, podemos no máximo fazê-los admitir que a resposta parece ser quatro, sim, mas isto apenas porque nosso entendimento é limitado demais para percebermos as razões superiores pelas quais a resposta é cinco. Esta “explicação” vai aliviar qualquer susto que tenhamos lhes causado e eles ficarão felizes de novo. Se insistirmos, eles vão despejar coisas sem sentido tiradas da Bíblia e nos dizer que é melhor nos arrependermos antes que seja tarde. As perguntas embaraçosas serão ignoradas, como se estivéssemos falando com um surdo.

Também é perturbador quando algum conhecido, até então perfeitamente razoável, entra para uma seita pentecostal e aparece com uma bíblia em baixo do braço distribuindo folhetos de sua igreja. Assusta ver quão certos eles estão de sua fé. Há algo de lunático em sua calma convicção. O tipo de loucura que faz pessoas jogarem aviões contra prédios.

Publicado originalmente na seção de “Deconversion Stories” do site “Positive Atheism”.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Movimento Modernista - Quando a Igreja Católica deu um tiro no pé

Na segunda metade do século 19, a Inquisição já não assustava ninguém. Foi a época em que Darwin publicou suas teorias sobre a evolução das espécies que contradiziam a Bíblia. Foi a época em que, usando a lógica para se analisarem obras clássicas como “A Ilíada” à luz dos conhecimentos históricos e geográficos disponíveis, cidades como Troia foram localizadas e desenterradas. Isto levou arqueólogos, historiadores e outros intelectuais a analisar todo e qualquer documento antigo em busca de segredos escondidos. Inclusive a Bíblia, que até então estivera mais ou menos protegida da contestação.
 

Trecho do livro “A Inquisição” - Michael Baigent & Richard Leigh - Editora Imago

Capítulo 12 - O Santo Ofício

Se se achava particularmente vulnerável no mundo secular, porém, a Igreja julgava-se recém-armada e equipada em outras esferas. A doutrina da infalibilidade papal fornecia, quando nada, um baluarte aparentemente inexpugnável contra os avanços e invasões da ciência. Para os fiéis, pelo menos, a infalibilidade se antecipava e impedia qualquer debate. Embora a Igreja não derrotasse a adversária, era poupada de ser derrotada ela própria, por ser impedida de ao menos entrar na arena. Para os católicos devotos, a infalibilidade papal constituía uma nova “rocha” contra a qual a maré da ciência, lançada pelo demônio, só podia quebrar-se em vão.

Contra a ciência, a Igreja podia assim empenhar-se numa contínua série de ações de contenção. Contra os outros principais adversários no mundo das ideias - isto é, contra as pesquisas dos estudos históricos, arqueológicos e bíblicos - acreditava que podia passar à ofensiva. Essa convicção ia levar ao vexaminoso embaraço do Movimento Modernista católico.

O Movimento Modernista surgiu do desejo específico de enfrentar as depredações causadas na escritura por comentaristas como Renan, e pelos estudos bíblicos alemães. Com o Modernismo, a nova Igreja Militante - uma Igreja Militante na esfera da mente - tentou lançar uma contraofensiva. Os modernistas destinavam-se originalmente a empregar o rigor, a disciplina e precisão da metodologia alemã, não para contestar a escritura, mas para defendê-la e apoiá-la. Uma geração de estudiosos católicos foi trabalhosamente formada e preparada para fornecer ao Papado o equivalente a uma força de ataque acadêmica, um quadro determinadamente formado para fortalecer a verdade literal da escritura com toda a artilharia pesada das mais atualizadas técnicas e procedimentos críticos. Como os dominicanos do século XIII e os jesuítas do século XVI, os modernistas foram mobilizados para lançar uma cruzada que recuperasse território perdido.

Para frustração e humilhação de Roma, porém, o tiro da campanha saiu pela culatra. Quanto mais a Igreja se esforçava por equipar os jovens clérigos com os instrumentos necessários ao combate na moderna arena polêmica, mais esses mesmos clérigos passavam a desertar da causa para a qual haviam sido recrutados. O meticuloso escrutínio da Bíblia revelou uma pletora de discrepâncias, inconsistências e repercussões alarmantemente inimigas do dogma oficial - e lançou a doutrina da infalibilidade papal numa luz cada vez mais dúbia. Antes que qualquer um compreendesse o que se passava, os próprios modernistas já haviam começado, com suas dúvidas e questões, a corroer e subverter as posições mesmas que deveriam defender. Também passaram a contestar a centralização de autoridade da Igreja.

Assim, por exemplo, Alfred Loisy, um dos mais famosos e respeitados modernistas, perguntou publicamente como ainda se podia sustentar certas doutrinas de Roma na esteira da pesquisa bíblica e arqueológica contemporânea. “Jesus proclamou o advento do Reino”, afirmou Loisy, ecoando o Grande Inquisidor de Dostoiévski, “mas o que adveio foi a Igreja.”’ Ele demonstrou que muitos pontos do dogma se haviam cristalizado como reações historicamente determinadas a acontecimentos específicos, em lugares e épocas específicos. Não deviam, portanto, ser vistos como verdades fixas e imutáveis, mas, na melhor das hipóteses, como símbolos. Segundo Loisy, premissas básicas da doutrina cristã como o Parto Virgem e a divindade de Jesus não eram mais sustentáveis como acontecimentos literais.

Em 1893, Loisy foi demitido de seu cargo de professor, mas isso não resgatou a situação porque ele continuou vociferante e prolífico. Em relação a Loisy e a seus colegas modernistas, a Igreja estava no dilema do incendiário preso no prédio a que ele próprio ateou fogo. O modernismo não era mais apenas embaraçoso. Demonstrava uma capacidade de tornar-se verdadeiramente perturbador e destrutivo.

Em 1902, nove meses antes de morrer, o Papa Leão XIII criou a Pontifícia Comissão Bíblica, para supervisionar e controlar a obra dos estudiosos católicos da escritura. Oficialmente, a tarefa da Comissão era “lutar... com todo o cuidado possível para que as palavras de Deus.., sejam escudadas não apenas de qualquer bafejo de erro, mas até mesmo de qualquer opinião precipitada”.2  Era assegurar que os estudiosos “se esforcem por salvaguardar a autoridade da escritura e promover sua correta interpretação”.3

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

A "sabedoria dos antigos"

Povos primitivos inventaram historinhas fantasiosas para explicar o universo.
Ao longo dos milênios, tais historinhas foram modificadas, adaptadas, distorcidas e reinterpretadas, às vezes se incluindo elementos de outras historinhas.

No século XXI, algumas pessoas procuram significados ocultos nesta bobajada se julgando muito superiores àqueles que a veem como simples superstições de povos primitivos.

A velha crença em que os antigos tinham uma sabedoria fantástica que se perdeu ou foi preservada por ordens iniciáticas secretas. Que textos que sobreviveram a civilizações desaparecidas contêm vestígios de conhecimentos avançados.

Não adianta o místico apelar para uma vida dedicada ao estudo da "sabedoria dos antigos", desprezando os que pouco ou nada conhecem sobre Jacob Boehme, Hermes Trismegisto ou Helena Blavatsky.

Estudar a fundo o assunto torna a pessoa um expert, mas não significa que ela tenha como provar que é verdade ou se baseia em fatos.

E, enquanto não provar, o leigo não terá motivos para reconhecer sua autoridade.

Por exemplo, não adianta um teólogo esfregar seu diploma de teologia na cara do descrente dizendo "Quem é você para me questionar?!!"

O mais sensato será ignorar essa gente.

Citar grandes filósofos é a "falácia da autoridade". Só porque eles tiveram algumas boas ideias, não significa que acertaram em tudo. Eles partiam do princípio de que havia um conhecimento ou entidade superior a serem descobertos e entendidos. Já eu, apesar de não excluir a hipótese de que possam existir, não vejo necessidade de perder meu tempo com elucubrações inúteis sobre coisas imaginárias.

Afinal, quer haja algo ou não, será inalcançável e incompreensível.

Uma hipotética revelação irrefutável feita por tal entidade será apenas uma ilusão.
Apenas aquilo que ela quer que vejamos e pensemos, não a realidade.
Que, de qualquer modo, estaria fora de nosso alcance.

terça-feira, 1 de novembro de 2022

O rebelde anti-romano que inspirou o personagem Jesus

 Este texto defende a ideia de que os fatos descritos no NT no início dos anos 30 aconteceram, na verdade, do final dos anos 40 em diante.

https://www.researchgate.net/publication/342872663_Jesus_and_the_Egyptian_Prophet

Os evangelistas teriam baseado Jesus na figura de um rebelde conhecido como o "Profeta Egípcio" e teriam deslocado os acontecimentos para  10 a 20 anos antes, mudando os personagens envolvidos. Eles atribuem, por exemplo, os atos de Felix, procurador de 52 a 59dC, a Pilatos. Segundo Flavio Josefus, foi Felix que mandou os soldados ao Monte das Oliveiras para prender o Profeta Egípcio, que tinha reunido lá seus seguidores anunciando que dali destruiria as muralhas de Jerusalém e abriria o caminho para a invasão. Isto explicaria a passagem onde Jesus diz aos discípulos para vender o que fosse preciso e comprar espadas e também o fato de que foram enviados 1000 soldados para prender um pacífico profeta e alguns poucos de seus seguidores.

Assim como Jesus, o "Profeta Egípcio" veio do Egito (onde teria se tornado um mago) e apareceu, de repente, já com 30 anos.


Há ainda documentos dos Pais da Igreja, como Ireneu ou Victorinus de Pettau, que afirmam que Jesus viveu mais que 50 anos. São Jerônimo diz, em seu livro "Dos homens ilustres":

    "In the commentaries of Victorinus among other things these are also written: “I found in parchments of Alexander the bishop, who was in Jerusalem, which he transcribed with his own hand from exemplars of the apostles, thus: ‘The Lord Jesus Christ was born on December 25 in the consulate of Sulpicius Camerinus [in 9 AD]. He was baptized on January 6 in the [second] consulate of Valerius Asiaticus [in 46 AD]. Truly his passion was on March 25 in the third consulate of Nero and [the first of] Valerius Messala [in 58 AD]."

E o próprio Jerônimo diz que Jesus estava vivo nos tempos de Claudio (41-54 dC).

É possível que os evangelistas tenham tentado desvincular Jesus das rebeliões contra os romanos e disfarçado algo que eles não podiam, na época, dizer abertamente.

Outros indícios:

Mateus 15:33-38 e Marcos 08:04-09, no milagre da multiplicação de pães e peixes, falam que Jesus esteve com quatro mil homens no deserto.

Em Atos 21:38, perguntam a Paulo se ele não é "aquele rebelde egípcio":
"Não és tu porventura aquele egípcio que antes destes dias fez uma sedição e levou ao deserto quatro mil salteadores?"

Assim como Jesus, o Egípcio passou um tempo no deserto.
Ambos falam em derrubar as muralhas de Jerusalém (Lucas 19:43-44).
Ambos viveram no Egito.
Ambos são descritos como líderes messiânicos com muitos seguidores.
Ambos são vistos como ameaça pelas autoridades.
O Egípcio foi derrotado no Monte das Oliveiras, onde Jesus foi preso.