domingo, 13 de março de 2005

O que fazer com tanto tempo livre


Nunca a humanidade teve tanta tecnologia para lhe facilitar a vida
e nunca teve tão pouco tempo livre.
Qualquer tempo que se libera é imediatamente preenchido por novas
ocupações. Lembro-me do anúncio de um debugger numa revista para
programadores. O tal programa permitiria que o trabalho fosse
terminado muito mais rápido, ficando o sujeito com tempo livre
para aproveitar a vida. E o fundo do anúncio mostrava um esquiador
descendo uma montanha coberta de neve.
Qualquer um sabe que, se o funcionário pode fazer o trabalho na
metade do tempo, o patrão lhe dará dois serviços para fazer naquele
mesmo tempo. Ou, no caso de um autônomo, ele sairá em busca de mais
serviço.
O fato de se fazerem 10 coisas por dia em lugar de passar o dia
todo ocupado com apenas uma implica num stress adicional:
administrar 10 coisas diferentes. Antigamente, eu começava um
serviço, levava algum tempo até pegar o jeito e depois era só
levar em frente. Agora eu tenho que pegar o jeito 10 vezes por
dia. Com tantas transições, termino o expediente com a vaga
impressão de que esqueci alguma coisa importante.
Antes dos computadores, esperava-se menos da apresentação dos
documentos. Eu escrevia um manual a lápis e o passava para uma
secretária que o batia à máquina. Ele me era devolvido para
conferência, eu indicava os erros, eram corrigidos, novo retorno,
até que eu decidia que estava bom o bastante (cheio de corretivo,
com letras espremidas).
Hoje espera-se que eu digite tudo - e tem que ficar perfeito, bem
diagramado, sem erros.
Antes, eu desenhava à mão e passava para um desenhista fazer no
poliéster com nanquim e régua T. O resultado final era mais ou
menos, cheio de manchas e sombras de fita adesiva (colar e cortar
eram termos literais).
Hoje, cada engenheiro tem que fazer seus próprios desenhos no
computador e entregar um serviço perfeito.
Antes, terminava-se um serviço e mandava-se tudo pelo correio para
o cliente. Tínhamos pelo menos 4 dias antes que voltasse a papelada
com comentários. Hoje, com a Internet, volta no mesmo dia, não
importando onde o cliente esteja.
Outra coisa que se perdeu foi a privacidade. Há poucos anos, quando
se saía para almoçar, o tempo era todo dedicado ao almoço. A pessoa
ficava fora de alcance. Hoje, no restaurante ou no carro, estamos
sempre disponíveis para ouvir os problemas que nos trazem. E, em os
tendo ouvido, responsáveis por resolvê-los (e estressados).
Em resumo, está longe o dia em que morreremos de tédio. É mais
provável que morramos de stress.

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