sábado, 8 de agosto de 2009

O que há de verdade no relato do Êxodo?



Como é possível que 2 milhões de israelitas [*] tenham sobrevivido por 40 anos no deserto do Sinai, junto com seus animais e carregados com o tesouro dos egípcios [**]?

A região, até hoje, e mesmo com a tecnologia moderna, mal consegue sustentar uns 50 mil beduínos (no máximo; os números são imprecisos e variam de 5 a 50 mil), sendo que muitos deles vivem em cidades.

A arqueologia encontrou sinais de povos caçadores-coletores em vários lugares do Sinai, mas datam de antes e depois da época em que o Êxodo deveria ter ocorrido. Dessa época, só foram encontrados restos deixados pelos soldados egípcios e, mesmo assim, ao longo de uma antiga estrada ao norte, não onde os judeus teriam estado.

Como é que grupos pequenos, com dezenas ou centenas de nômades, deixaram vestígios detectáveis e 2 milhões de israelitas, durante 40 anos, não?

Alguns crentes alegam que os israelitas viviam fugindo e nunca passavam muito tempo no mesmo lugar, mas, segundo o Deuteronômio, eles passaram quase todo esse tempo nas proximidades do oásis de Kadesh-barnea, na parte leste do Sinai. O versículo 2:14 especifica: 38 anos. Não há sinais de 38 anos de permanência de 2 milhões de pessoas.

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* Êxodo 12:37 fala em 600.000 homens, o que, com mulheres e crianças, daria 2 milhões. Números 1:46 entra em detalhes, por tribo, e chega a 603.550.
A maioria dos apologistas cristãos concorda com esse número, embora apele para milagres para explicar sua sobrevivência.

** Êxodo
12:32 Levai também convosco os vossos rebanhos e o vosso gado, como tendes dito; e ide, e abençoai-me também a mim.
12:35 Fizeram, pois, os filhos de Israel conforme a palavra de Moisés, e pediram aos egípcios jóias de prata, e jóias de ouro, e vestidos.
12:36 E o Senhor deu ao povo graça aos olhos dos egípcios, de modo que estes lhe davam o que pedia; e despojaram aos egipcios.
12:38 Também subiu com eles uma grande mistura de gente; e, em rebanhos e manadas, uma grande quantidade de gado.

Mais sobre o assunto:

Esta é uma série de artigos sobre a historicidade do Deuteronômio.

Os patriarcas:
http://www.ebonmusings.org/atheism/otarch1.html

O Êxodo:
http://www.ebonmusings.org/atheism/otarch2.html

Josué:
http://www.ebonmusings.org/atheism/otarch3.html

É bastante detalhada e investiga cada alegação dos religiosos.

O arqueólogo Israel Finkelstein fala sobre período em que a Bíblia foi realmente escrita e por quem:
http://www.lanacion.com.ar/775002-el-exodo-no-existio-afirma-el-arqueologo-israel-finkelstein

O ocidente é poderoso porque é cristão?

Que valor intrínseco ao cristianismo teria levado ao progresso do ocidente?
Que parte da mensagem de Jesus teria possibilitado a criação dos impérios baseados em nações europeias que dominaram parte do mundo nos últimos 500 anos?

Jesus nunca pregou a favor da prosperidade material ou do poder político. Nunca defendeu o progresso das ciências. E Paulo, ao chamar de loucura a sabedoria deste mundo, não ajudou em nada. O cristianismo primitivo não tinha templos luxuosos ou uma hierarquia poderosa que interferia nos governos, pelo contrário, a pobreza e o desprendimento dos bens materiais eram uma virtude.

Os crentes (principalmente os católicos) vivem repetindo que foi graças à Igreja Católica que a cultura greco-romana foi preservada durante a Idade Média. Sim e não.

Sim, durante a Idade Média, a cultura se refugiou nos mosteiros enquanto o resto da Europa e até as cortes mergulhavam na ignorância e no analfabetismo.

Não, apenas apenas uma parte da cultura foi preservada, apenas a parte que interessava à Igreja. A cultura e a ciência grega se perderam, já que, depois de uma certa época, ninguém mais sabia grego, e só retornaram à Europa graças aos árabes, que as preservaram e expandiram. Alguém já parou para pensar por que os algarismos arábicos têm esse nome? Ou por que grande parte das estrelas mais conhecidas têm nomes derivados do árabe?

Mas por que a Igreja preservou parte da cultura? Em cumprimento a algum mandamento divino? Absolutamente não.

Acontece que o latim era a língua do cristianismo e da Igreja, assim como o árabe é a língua do islamismo. A liturgia era toda em latim, a Bíblia era em latim, os livros religiosos eram em latim, os documentos emitidos pela Igreja eram (e ainda são) em latim. Portanto, era necessário que o conhecimento do latim escrito e falado sobrevivesse. Isto, e não o amor pela cultura e ciência, preservou o latim e a parte do conhecimento antigo que lhes interessava.

Sim, claro, foi também graças à Igreja, em grande parte, que a cultura voltou aos poucos a se espalhar pela Europa por meio das escolas religiosas, onde as crianças da nobreza estudavam e, mais tarde, das universidades. Entretanto, o mesmo fenômeno, de certa forma, aconteceu no mundo árabe, dando origem a escolas que preservaram a cultura do mundo antigo e a desenvolveram ainda mais, levando-a depois de volta à Europa através de Portugal e Espanha e devido às influências recebidas durante as cruzadas.

Só que essas escolas foram criadas a partir do ano 778 pelo imperador Carlos Magno, que desejava restaurar a grandeza do império romano e precisava de administradores capacitados, e não por iniciativa da Igreja, que apenas foi encarregada da tarefa. Nessa época, inclusive, a maior parte dos clérigos era analfabeta.

E, também é claro, o progresso continuou fora dos mosteiros, independente da religião. As pessoas, cientistas ou não, continuaram descobrindo jeitos melhores e mais eficientes de se fazerem as coisas. Na Europa e no resto do mundo.

Não esquecendo que esse progresso poderia ter sido mais rápido se os cientistas não tivessem que obter aprovação eclesiástica antes de divulgar suas teorias ou que tivessem que verificar antes se elas não contrariavam a "verdade" das Escrituras (criar problemas com a Igreja era perigoso e fazia mal à saúde...).

Sim, o ocidente tornou-se poderoso nos últimos 500 anos, mas a questão é, repito: qual foi a influência da doutrina cristã neste processo? O que há nas palavras de Jesus que tenha levado a isto e que não encontramos no islamismo ou nas religiões da China, do Japão ou da Índia? O que há no cristianismo que vai garantir que esse poderio continue indefinidamente?

O domínio egípcio durou uns 3 mil anos e se acabou. O império romano durou uns 700 anos e também se acabou. Por que essa coisa indefinida denominada "ocidente" vai continuar no poder eternamente? Os impérios coloniais já desapareceram e o poder econômico já não é tão grande. Muitas nações cristãs nunca foram nem ricas nem poderosas e outras o foram, mas depois entraram em decadência.

O ocidente é hoje o que é devido a ser cristão ou devido a um conjunto de fatores entre os quais a religião é apenas um detalhe? E por que levou 1500 anos para que isto acontecesse?